segunda-feira, 30 de março de 2009

Angola


A morte do histórico líder da UNITA, Jonas Savimbi, em Fevereiro de 2002, terá marcado o ponto de viragem na história recente de Angola, viabilizando a pacificação do País e a ultrapassagem do mortífero conflito que se arrastou desde os dias da independência.
Para o sétimo maior país do Continente Africano, com uma área de 1.250 quilómetros quadrados, e para uma população que ronda os 17,5 milhões de pessoas, esta era a oportunidade para encetar a via do desenvolvimento e do crescimento económico, em linha com o vasto rol de recursos naturais de que o país dispõe e cujo valor económico não se reflectiu durante estas décadas nas suas principais estatísticas.
Afinal, segundo os dados do Banco Mundial de 2007, Angola mantinha-se como um dos mais pobres países do mundo, com um PIB per capita que se cifrava nos 1.940 Euros, e com uma esperança média de vida que ronda os 41 anos nos homens e os 44 anos nas mulheres (de acordo com informação das Nações Unidas).
De notar, ainda, que estes dados se registaram após sucessivos anos de crescimento, a taxas que oscilaram (com excepção de 2003) entre os 11,2% e os 20,6%, num período em que Angola voltou a registar saldos positivos na sua balança comercial externa, muito por força das valiosas exportações de petróleo e gás, diamantes, minérios, café, peixe e madeira.
Do ponto de vista económico e social, a pacificação do País abriu também espaço à sua “reconstrução” e à dotação de um conjunto de infra-estruturas essenciais para o conjunto da sua população, entre acessibilidades, escolas, unidades de saúde, habitações, equipamentos turísticos, zonas industriais, etc..
Este manancial de oportunidades foi logo visto por muitos empresários nacionais como um novo Eldorado, à medida que contavam em Euros (ou Dólares) os milhares de quilómetros de estradas a pavimentar, de pontes a construir, de metros quadrados a vender ao superavitário Estado Angolano e a uma classe privilegiada de cidadãos mais abastados.
Naturalmente, a mesma leitura foi feita por uma multiplicidade incontável de empresários internacionais, com especial destaque para os contingentes Chinês e Brasileiro que se parecem querer associar à habitual disputa entre a ex-União Soviética e os Estados Unidos na tentativa de controlo dos recursos deste país, o que transformou Luanda numa verdadeira metrópole multicultural.
Numa óptica de relações internacionais do Estado Português, parece-me claro que Portugal deve pugnar por ser um parceiro preferencial nas relações com a sua antiga colónia, seja no seio da CPLP- Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, seja no quadro das relações entre Angola e a União Europeia.
Não se pense, porém, que Portugal poderá funcionar como chave na abertura de portas das capitais europeias para mais este seu “parente pobre”.
Em primeiro lugar, porque o epíteto não assenta bem à agora pujante economia angolana. Em segundo lugar, porque Angola não precisa de tal mediador e tem seguramente escancaradas as portas de todas as economias desenvolvidas.
Finalmente, e esse não será um pormenor, porque a economia portuguesa não está em condições de se assumir como “parente rico” de quem quer que seja, sendo que no caso Angolano, já se começam a sentir os primeiros receios públicos de uma espécie de neo-colonialização económica, idêntica àquela que se temia pudesse vir a ocorrer por parte da economia espanhola.
Na base de tais “irritações cutâneas” estão as sucessivas tomadas de posição de empresas angolanas no capital de importantes grupos económicos nacionais, mais concretamente, no sector financeiro português.
Nestes casos, é certo que não se pode considerar que se trata de Investimento Directo Estrangeiro reprodutivo e que o mesmo pode efectivamente ameaçar alguma capacidade de retenção no nosso País dos ditos “Centros de Decisão Nacionais”.
Todavia, perante a incapacidade do nosso tecido empresarial promover soluções que viabilizem a manutenção em mãos nacionais das empresas dominantes em certos sectores estratégicos, não me parece especialmente relevante saber se os seus novos detentores são angolanos, franceses ou ucranianos.
Assim seja possível ultrapassar as lógicas de dominador e dominado, Portugal e Angola têm toda a vantagem em abraçar de braço dado os desafios que a sua actual situação económica e social proporciona.
E, quem sabe, a trilhar os mesmos caminhos no combate aos vícios que, “dentro do sistema” podem obstar à concretização de todo o seu potencial.

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