quarta-feira, 25 de agosto de 2010

E o que mais Verão

Desta vez o calor chegou com toda a força e na hora certa para não deixar desiludidos todos quantos ansiavam por uns merecidos dias solarengos, de “papo para o ar”, nas praias, piscinas e jardins do nosso País.
Todavia, enquanto uns descansavam, muitos lutavam em condições desesperadas por conter uma das maiores ofensivas recentes dos tradicionais incêndios da época, ora provocados por negligência, ora causados por mãos criminosas que a justiça ainda não pune devidamente.
Num e outro caso, por entre as tentativas tantas vezes hercúleas para minimizar os danos em bens materiais, as ameaças a zonas habitadas e os atentados a espaços ambientalmente protegidos, repetiram-se as queixas sobre a insuficiência dos meios, a falta de coordenação das respostas, a ridícula invocação de estatísticas mais favoráveis pelos responsáveis governativos.
Saudou-se, como sempre e bem, a bravura dos bombeiros, lamentou-se a falta de medidas e atitudes preventivas e avançou-se com propostas de ressarcimento dos danos ou de penalização dos negligentes, esquecendo que, na maior parte dos casos, é o Estado ou Entes Públicos quem dá o pior exemplo…
Logo que a temperatura abrandou e que as primeiras chuvas temperaram as agruras estivais, a nossa vocação catastrófica transferiu-se para as estradas, acumularam-se os acidentes, fomos confrontados com tragédias como a que esta semana ocorreu na A25 e outras tantas – ainda que menos impactantes do ponto de vista estatístico – nos quilómetros, portajados ou não, que nos percorrem de lés-a-lés ou que levam e trazem os “nossos” aos/dos seus ofícios para lá das nossas fronteiras.
Por outros caminhos, da animação do Pontal à secura de Mangualde, acelerou-se nas palavras e aqueceu-se o tom do discurso político, lançando algum nevoeiro sobre os meses que se seguirão.
De um lado, exigiu-se o óbvio: opções claras, justas e atempadas em matéria orçamental e assumiu-se a desvinculação de uma política em que se disfarçam os contínuos e agravados descalabros do lado da despesa com a arrecadação sôfrega de receitas fiscais, a expensas das famílias e da competitividade da nossa economia.
Do outro, utilizou-se o expediente habitual (porque sempre bem sucedido até prova em contrário), da manipulação do campo mediático, da martirização política, da afirmação das “causas sociais” e dos “ideais de esquerda” que qualquer análise mais descomprometida pode facilmente desmontar.
E terá havido Verão em que os Governantes em funções mais primaram pelo disparate, ao ponto de os próprios terem de assumir sucessivos desmentidos? Os aumentos da função pública, as passagens com notas negativas, os “espiões” cujas missões são anunciadas pelos responsáveis?
Como seria de esperar, a economia também sorriu, timidamente; o desemprego estancou, como é normal na estação, mas a fuga do mercado de trabalho é também notória; as prestações sociais estão a ser reavaliadas e a permitir algumas poupanças por entre o despesismo generalizado.
Em Agosto, renovam-se anualmente as esperanças dos aficionados, prometem-se novas conquistas, e fazem-se avultados investimentos em contra-ciclo (ou deveria dizer-se contra-senso) com os passivos acumulados e as sucessivas reestruturações financeiras, que tantas vezes se assumem como péssimas opções estratégicas.
Também aqui, há espaço para o exemplo. Com os tostões contados, sob uma liderança de pulso, um discurso e postura ambiciosa e um espírito de luta indomável – que noutras esferas se poderia traduzir em esforço colectivo e produtividade – o Sporting Clube de Braga lá vai conquistando os seus milagres… e os seus milhões.
Afinal, a demonstração de que com rigor, planificação e capacidade de trabalho se consegue a “competitividade” necessária para fazer de cada mês uma Primavera.
Em Portugal, com o Outono ainda distante, resta esperar que sejam assim positivas as cores com que se vão pintar os dias que restam deste Verão.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Raízes


Historicamente, os Portugueses nunca hesitaram em largar amarras, partindo à descoberta do desconhecido, à aventura no incerto, à conquista de novos mundos ou à compulsiva procura de um futuro melhor fora das fronteiras do seu País.
Talvez por isso, esteja hoje espalhada à escala planetária uma enorme fatia deste pequeno Portugal, que não hesita em fazer-nos sentir em casa para onde quer que queiramos viajar.
Mais do que meros laços com a História - como os legados que encontramos nos diferentes Continentes -, trata-se de uma realidade bem presente, com comunidades vivas e um sem número de histórias de afirmação e sucesso nos países de acolhimento, nos mais diversos ramos de actividade.
Todavia, salvo qualquer ligação pessoal ou familiar mais directa, esse(s) facto(s) tende(m) a passar-nos ao lado e não merece(m) sequer qualquer tratamento noticioso de relevo, que não no quadro dos apontamentos pitorescos com que se faz a cobertura de deslocações de representações nacionais ao estrangeiro, seja no plano político (das viagens oficiais do Presidente da República ou do Primeiro-Ministro), seja na esfera desportiva (como mais uma vez sucedeu aquando do Mundial da África do Sul).
Se há uma parte substancial do Portugal “de cá” que se lamenta da forma como é constantemente esquecido pelas esferas de decisão e pelos palcos mediáticos, compreende-se – ainda que não se aceite – que o mesmo possa suceder de forma ainda mais vincada com esse Portugal “de lá”.
Acontece, porém, que a insistência em tal postura pode ter gravosas consequências para o nosso futuro como Nação, seja pela quebra dos laços dos emigrados com o seu País-Natal, seja pelo desprezo que alguns vão votando ao sotaque afrancesado com que se cruzam nas ruas das nossas cidades, nas praias e nas aldeias.
Para o Portugal “de cá”, a questão é muito mais abrangente que o potencial de remessas que poderá receber dos mais de 4 milhões de portugueses de 1ª geração que se encontram emigrados e dos milhões de luso-descendentes que mais engrossam a universalidade lusitana, por mais que esta cifra sempre tenha assumido um papel muito importante no equilíbrio das nossas hoje totalmente desequilibradas contas externas.
Nos dias que correm, por exemplo, a falta de oportunidades de trabalho e as menores perspectivas económicas levam muitos dos nossos melhores recursos a procurar outras paragens para o arranque ou desenvolvimento das suas carreiras, num fenómeno que acarreta problemas quer no plano social (pelo contributo para a quebra da natalidade e para o envelhecimento da população), quer no plano económico - pese embora as vantagens imediatas na mitigação da taxa de desemprego e na redução dos custos com prestações sociais.
Seja em relação a esta nova vaga de emigrantes, seja em relação às referidas comunidades há muito instaladas nos diferentes países de destino, a verdade é que se impunha um outro relacionamento e um acompanhamento bem mais próximo, no quadro de uma estratégia clara de desenvolvimento económico, quer pela valorização do seu potencial turístico, quer pelo papel que podem assumir na internacionalização da economia nacional.
Como já muitas vezes defendi, esses Portugueses “de lá” são peças cruciais no reforço do nosso potencial de crescimento, potenciando o aproveitamento de canais de distribuição para os produtos portugueses, viabilizando a criação de uma rede de parcerias entre empresas domésticas e empresas de portugueses emigrados, reforçando a atracção de investimento produtivo para o nosso país, assegurando a promoção de Portugal e das empresas portuguesas, entre muitos outros contributos assinaláveis.
Como Cavaco Silva fez questão de frisar na sua recente visita a Cabo-Verde, os nossos emigrantes são a nossa “guarda-avançada”, podendo dar uma ajuda significativa aos nossos empresários locais.
Juntos, como se podia ouvir na música que Kátia Guerreiro interpretou na campanha para as Eleições Presidenciais de 2005, poderemos “fazer Portugal Maior, romper a bruma, abrir o dia, rasgar o medo, fazer melhor”.