terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Era uma vez um Leão


O Desporto no seu todo e o futebol em particular conquistaram ao longo dos últimos anos um protagonismo social e económico que mais que justificam as incursões pontuais que aqui vou fazendo em tais realidades.
A juntar a tal facto, porém, está também sempre presente o especial apreço que tenho por estas matérias e a evidente simpatia que nutro por alguns dos intervenientes, individuais ou colectivos.
Todavia, quando hoje reservo estas linhas a uma análise sumária das incidências que voltam a marcar a vida do Sporting Clube de Portugal não é apenas para dar voz à costela verde e branca do meu bi-sportinguismo - a outra veste o vermelho e branco de Braga - mas antes porque o Sporting se assume hoje como um caso empresarial de estudo.
Tal como tantas e tantas empresas que já tiveram alguma projecção nos respectivos sectores de actividade mas que em certo momento da sua vida mergulham numa encruzilhada, o Sporting depara-se hoje com vários dos sintomas dessas mesmas angústias.
Afinal, se a sua missão enquanto “projecto empresarial” é obter sucessos desportivos, a realidade recente tem demonstrado que só em circunstâncias verdadeiramente “anormais” é que a equipa, nomeadamente na vertente de futebol profissional sénior, consegue disputar as competições de igual para igual com os seus adversários.
Por outro lado, simultaneamente na base e como consequência de tal evidência, o Clube (ou a SAD) tem apresentado fracos resultados financeiros – encontrando-se mesmo numa situação verdadeiramente constrangedora da sua sustentabilidade futura em função do passivo acumulado – e tem vindo a perder clientes de forma acelerada e talvez irreversível, assim se entendam os seus sócios, adeptos e/ou espectadores dos seus jogos.
Em paralelo com tais realidades, a vocação formadora que caracterizou o Clube ao longo dos últimos anos vai dando para registar alguns sucessos no plano das camadas jovens mas não se deve perspectivar como solução incontornável, seja para a garantia de obtenção de novas receitas (não é todos os anos que surgem jogadores como Ronaldo, Nani, Moutinho ou M. Veloso), seja para fonte de alimentação da equipa principal em matéria de recrutamento de qualidade inquestionável.
Para cúmulo, mesmo a lógica eclética que o clube sempre assumiu pela presença em diferentes modalidades tem vindo a perder alguma expressão à medida que os condicionalismos económicos puseram em causa a manutenção de diversas equipas e atletas.
Como em tantas e tantas outras colectividades de relevo no plano nacional e internacional, ao Sporting coloca-se a mesma dicotomia entre a sua sustentabilidade económica e financeira e a quiçá infrutífera aposta no êxito desportivo pleno.
Como em tantas e tantas empresas dos mais diversos sectores de actividade, o problema de base do Clube centra-se na indefinição estratégica, na ausência de uma gestão coerente, rigorosa e assente em pilares sólidos de adesão à actual realidade do Clube e na incapacidade de se reconstruir e renovar, adaptando-se aos condicionalismos do meio envolvente.
Esta situação é tanto mais confrangedora quanto não se pode sequer pôr em causa a capacidade de gestão dos múltiplos dirigentes que assumiram os destinos do Clube ao longo dos últimos anos e que apresentam currículos notáveis e reconhecidos nos seus contextos profissionais ou empresariais.
Atendendo a estes condicionalismos, o primeiro requisito para os novos órgãos sociais que agora serão eleitos passará pela criação de condições para a ultrapassagem de uma equação aparentemente irresolúvel: voltar a mobilizar (os) adeptos em torno do Clube, credibilizando e fortalecendo a respectiva marca, ao mesmo tempo que terão incutir um banho de realismo nas suas ambições e na gestão corrente do mesmo.
Se assim não acontecer, o tempo tratará de demonstrar os enormes riscos de uma qualquer opção alternativa.
Ainda assim, alguém acredita que algum potencial candidato poderá assumir este desígnio, nomeadamente na antecâmara do período eleitoral que se avizinha?
Ou, pior do que isso, que o poderá manter quando, depois de ser eleito, se confrontar com a rápida conversão dos “bestiais em bestas” que estas lides sempre potenciam?

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Um economista a Presidente (II)


Há precisamente cinco anos, escrevi uma primeira versão deste artigo, também na antecâmara das Eleições Presidenciais.
E, como hoje, perguntava: “De que Presidente é que Portugal precisa agora, numa circunstância em que o país tarda em sair da estagnação económica, em que o desemprego cresce, em que o défice das contas públicas continua vigoroso, em que se abalam as estruturas do Estado-Providência, em que escasseiam os consensos entre os parceiros sociais, em que prolifera a corrupção e a evasão ao fisco, em que a Europa se enfraquece e a nossa posição no mundo lusófono se esbate?…
Ao que eu próprio cuidava de responder: “Como uma qualquer empresa que atravessa um período de maiores dificuldades, Portugal necessita de uma injecção de capital de risco, de confiança, de seriedade, de rigor, de exigência, de ambição.
Portugal precisa de um Presidente que não hesite em traçar rumos que possam ser percorridos por aqueles a quem cabe o árduo esforço da caminhada: o Governo, os empresários, os trabalhadores, os sindicatos e as associações empresariais, os funcionários públicos, os profissionais dos mais diversos sectores de actividade, os jovens, os idosos, os homens e mulheres de Portugal e a gesta lusitana que se espalha mundo fora.
Na actual conjuntura, Portugal terá tudo a ganhar em ter um Presidente economista. Alguém que perceba o real alcance dos desafios que se colocam ao País e que possa colaborar com o Governo na identificação das melhores soluções, promovendo a retoma da credibilidade e da confiança e assegurando os prementes esforços de concertação e pacificação social
”.
Desta extensa citação resultam vários indicadores que comprovam que a resposta à dita questão não pode ser hoje distinta daquela que os Portugueses deram nesse distante mês de Janeiro de 2006.
Desde logo, quando analisamos o quadro económico e social do País, verificamos que a situação hoje é bem pior do que aquela que se verificava há cinco anos, demonstrando de forma inequívoca que estes foram anos totalmente perdidos da nossa História, marcados pela tolerância exagerada dos Portugueses para com um Governo manifestamente incompetente e lesivo do interesse nacional.
Do ponto de vista da análise do desempenho do Presidente em funções, há que reconhecer a Cavaco Silva a preocupação contínua em apontar os ditos rumos, em acarinhar os bons exemplos da dinâmica da sociedade civil – como tantas vezes fez nos vários roteiros temáticos com que percorreu o País de lés-a-lés –, ou nas intervenções que produziu de alerta e sensibilização para relevantes preocupações e causas sociais.
Indiscutivelmente, o Presidente Cavaco Silva foi um catalisador da salvaguarda da cooperação democrática com o Governo, evidenciando em múltiplas circunstâncias a capacidade de prescindir das suas próprias posições ou, pelo menos, das convicções da maioria esmagadora da sua base de apoio popular, para proteger aquele que considerou ser o interesse do País e dos Portugueses.
Sejamos claros: se assim não tivesse acontecido, teria sido muito fácil a Cavaco Silva socorrer-se dos mecanismos constitucionais ao seu dispor para lançar a “bomba atómica” e depor o Governo, com bastantes mais razões para o que fazer do que aquelas que Jorge Sampaio pôde invocar no final de 2004, com Santana Lopes.
Chegámos, pois, ao presente acto eleitoral e verificamos quão desacreditado está o cargo da Presidência da República, tal o leque de candidatos que se perfila como alternativa dos demais quadrantes democráticos ou a conduta que os mesmos patentearam durante os dias de campanha já percorridos, a roçar a indignidade.
Salva-se o meritório Presidente da AMI, Fernando Nobre, que ainda assim não consegue escapar à ideia de que corporiza uma vedeta do cinema mudo a preto e branco que cai por acidente numa super-produção de Hollywood da era digital…
Pode fazer-se o balanço do desempenho passado e pode efectuar-se esse juízo das alternativas que hoje se colocam aos Portugueses.
Mas deve-se, sobretudo, olhar para o futuro de Portugal e perguntar se o próximo Presidente da República não pode ser a garantia última da credibilização externa do País e da afirmação de Portugal no mundo, a força motriz da moderação de conflitos nos árduos tempos que se avizinham e um defensor da justeza e equilíbrio da acção Governativa, na defesa do comum dos cidadãos.
Eu acredito que sim. No dia 23, eu votarei em Cavaco Silva para Presidente de Portugal. Para Presidente de todos os Portugueses.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Priscos: Muito mais que um Presépio


Priscos é uma relativamente pequena Freguesia do Concelho de Braga, não tanto pela sua área – onde subsistem algumas das mais simpáticas e verdejantes zonas rurais do Concelho -, mas sobretudo pela dimensão da população - que não ultrapassava os 1.300 habitantes no Censos de 2001.
Para lá de outros atractivos locais, em que se destaca o conjunto de moinhos passíveis de recuperação monumental, a Freguesia tem de há muito o seu nome projectado para o conhecimento público graças a Manuel Joaquim Machado Rebelo, mais comummente conhecido como o Abade de Priscos.
De facto, aquele que foi pároco desta Freguesia durante quase meio século foi também um dos mais reputados cozinheiros da primeira metade do século XX; a ele se devendo a famigerada receita do Pudim à Abade de Priscos que faz as delícias dos mais gulosos num sem número de restaurantes nacionais.
Desde 2006, porém, a Freguesia de Priscos, sob a égide das instâncias paroquiais e a liderança do Pe. João Torres, com a colaboração das entidades administrativas locais e, sobretudo, com o envolvimento generalizado de toda a população (da Freguesia e de várias Freguesias vizinhas), lançou-se à concretização de uma iniciativa que já a projectou muito para lá das fronteiras do nosso País.
O Presépio Vivo de Priscos é já considerado o maior do Continente Europeu, reunindo na sua edição de 2010, mais de 70 cenários e 600 figurantes, num cenário que se estendeu por mais de 40.000 m2.
Como será fácil perceber a preparação de cada uma das edições do evento prolonga-se por quase todo o ano que o antecede, com as centenas de voluntários a entregarem o melhor das suas capacidades nas suas áreas de competências para o qualificar e acrescentar conteúdos cada vez mais inovadores.
Do Campus Romano ao Senado – a que acrescem os julgamentos e respectiva execução de penas na praça pública – da Sinagoga à Arca da Aliança, das lojas de artesanato e demais produtos da terra aos espaços de exibição das artes, ofícios e tradições do antigamente, da Gruta de Belém (onde desde o dia de Natal está um recém-nascido embalado nos mesmos termos do quadro bíblico) ao Palácio do Rei Herodes, são múltiplos os quadros e cenários que se procura retratar com o máximo rigor histórico possível.
Correspondendo ao esforço desta população, os Bracarenses e cidadãos de todo o País têm dado a devida resposta, prestando o tributo ao Presépio com cifras de visitas que ultrapassam as várias dezenas de milhar e que arrastam multidões para cada uma das exibições do evento.
Note-se, aliás, que o esforço generalizado é tanto mais significativo quanto o Presépio Vivo se encontra aberto naqueles que seriam os dias mais propensos para a vivência familiar de cada um, como são os dias 25 de Dezembro e 1 de Janeiro e os demais Sábados e Domingos do período envolvente, incluindo extraordinárias exibições nocturnas.
Para este evento, que movimenta anualmente um volume de visitantes ao nível dos principais eventos turísticos locais, a Câmara Municipal de Braga atribuiu um apoio financeiro de 500 Euros, a que acresceu algum apoio logístico e promocional adicional.
Como se pode ver, não é preciso que iniciativas da sociedade civil que em muito podem aportar ao desenvolvimento de um Concelho sejam integralmente suportadas no erário público ou na capacidade de concretização dessas instâncias.
Sucede, porém, que iniciativas desta natureza, capazes de se assumir como um elemento fortalecedor do espírito comunitário e, em igual extensão, capazes de alavancar a divulgação de um território no plano nacional e internacional e de atrair um volume de turistas tão significativo, deviam merecer outro enquadramento estratégico.
Sem jamais deturpar a sua génese e capacidade de realização eminentemente local, seria interessante sustentar esta iniciativa ou construir a partir da mesma um conjunto de ofertas complementares que pudessem aumentar a sua visibilidade e, porventura, o tempo de permanência dos visitantes no Concelho.
No fundo, seria de supor que, sobretudo em tempos difíceis como aqueles que hoje se vivem, os territórios não desperdiçassem ou desaproveitassem o potencial pleno das suas principais mais-valias, indutoras da criação de riqueza.
No mais, deixo-lhe o desafio para aproveitar uma próxima edição para passar pelas vendas de bolo do caco com chouriço, pelas “tascas” onde pode provar o copo de ginja ou hidromel, e por todos os demais atractivos que lhe pode proporcionar uma tarde de visita ao Presépio.
Para todos os efeitos, será sempre uma tarde muito bem passada!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

MMXI


Pousaram-se as taças de champanhe, apagaram-se os foguetes que iluminaram os céus do mundo inteiro, passaram já os genéricos das Galas e programas especiais que as TVs prepararam para a ocasião, calaram-se os últimos acordes dos concertos alusivos, desapareceu até o tapete de confetti que cobriu os espaços das muitas festas de reveillon com preços à medida da carteira de cada um.
Quase tão fugaz como os beijos que se trocaram com os sentidos votos de um feliz ano novo ou como os desejos encorpados nas uvas passas que acompanharam cada uma das doze badaladas da meia-noite, a passagem de ano parece uma memória remota e são já vários os dias que, céleres, correram a dar corpo ao novo ano ainda titubeante.
Tanto mais que, adornado pelo fim-de-semana que lhe deu as boas-vindas, 2011 entrou de mansinho, quase envergonhado, tão temeroso de se assumir em pleno como muitos parecem estar com as ameaças que o mesmo promete carregar no seu seio.
Neste novo ano temos muito mais à nossa espera que os habituais aumentos de ocasião, da água, da luz, dos transportes, das portagens, das telecomunicações, dos bens essenciais e de todos os demais, assim seja também ultrapassada a época das promoções, das reduções e dos saldos que agora se avizinha.
Há cortes de vencimentos na função pública. Há aumentos contidos na generalidade do sector privado. Há um aumento simbólico de 10 Euros no salário mínimo nacional.
Há reduções das prestações sociais e, em alguns casos, um maior rigor na continuidade da sua atribuição e no acesso às mesmas.
Há aumento do IVA e, por arrastamento, da quase generalidade dos bens e serviços. Há aumento dos impostos sobre o rendimento. E mais aumentos dos impostos sobre o rendimento por via da redução dos limites das deduções. E mais aumentos das contribuições para a segurança social com a entrada em vigor do novo Código Contributivo.
E podem subir os juros. E pode voltar a subir o petróleo e com ele os combustíveis e, quem sabe, novamente os transportes públicos.
E todos aguardamos para saber se os primeiros dados da execução orçamental do novo ano não vão trazer consigo o convite à propalada intervenção do FMI ou, o que considero mais provável, à assunção mais expressa por parte dos líderes e das instâncias europeias da condução das principais decisões da política nacional que já protagonizaram em 2010. Chegará o PEC4?
Há, também, natural expectativa para saber se o Presidente reeleito fará então recurso pleno aos poderes de que ainda dispõe no actual quadro constitucional, seja para tomar as rédeas de uma futura solução de “emergência nacional” ou para devolver a voz aos eleitores, permitindo-lhes remendar o clamoroso erro de Setembro de 2009 ou confirmar a sua vocação masoquista.
Na economia, bem o sabemos, continuará o despudorado retardar dos prazos de pagamento – com o Estado e os organismos públicos na liderança dos maus exemplos -, manter-se-ão as dificuldades de acesso ao crédito, suceder-se-ão, talvez a um ritmo ainda mais intenso, os despedimentos e as falências, dando corpo à conjuntura depressiva que as políticas públicas e a pertinente retracção do consumo privado seguramente vão acarretar.
A economia paralela prosseguirá a sua rota ascendente, confirmando a tendência terceiro-mundista deste jardim à beira-mar plantado.
Na sociedade, agravar-se-ão as tensões laborais e continuarão a crescer os níveis de pobreza e de fragilidade económica de diversas franjas da população, tantas vezes atenuados apenas por meros discursos espúrios de circunstância, sem qualquer correspondência na acção concreta de quem tem o poder de mudar o destino de um número tão significativo de famílias e cidadãos.
Com elevada probabilidade, aumentarão os níveis de insegurança e criminalidade, manter-se-á a tendência para a generalização das práticas de corrupção aos diferentes quadrantes da sociedade, para o crescente descrédito nas instituições e para a perda de valores essenciais da nossa existência colectiva ou para os padrões de conduta individuais.
Ainda assim, por mais negras que sejam as nuvens que já carregam os horizontes dos nossos dias, eu continua a acreditar que este vai ser um grande ano, em todas as frentes.
Com especial responsabilidade e bom-senso, determinação, espírito de sacrifício, ambição, coragem, capacidade de trabalho e criatividade, acredito que é possível edificar a ruptura positiva de que Portugal tanto precisa e que nos pode garantir o sucesso individual possível.
Porque, como escreveu um dos actuais candidatos Presidenciais quando fazia aquilo que faz melhor, “mesmo na noite mais triste, em tempo de servidão, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não!