quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Priscos: Muito mais que um Presépio


Priscos é uma relativamente pequena Freguesia do Concelho de Braga, não tanto pela sua área – onde subsistem algumas das mais simpáticas e verdejantes zonas rurais do Concelho -, mas sobretudo pela dimensão da população - que não ultrapassava os 1.300 habitantes no Censos de 2001.
Para lá de outros atractivos locais, em que se destaca o conjunto de moinhos passíveis de recuperação monumental, a Freguesia tem de há muito o seu nome projectado para o conhecimento público graças a Manuel Joaquim Machado Rebelo, mais comummente conhecido como o Abade de Priscos.
De facto, aquele que foi pároco desta Freguesia durante quase meio século foi também um dos mais reputados cozinheiros da primeira metade do século XX; a ele se devendo a famigerada receita do Pudim à Abade de Priscos que faz as delícias dos mais gulosos num sem número de restaurantes nacionais.
Desde 2006, porém, a Freguesia de Priscos, sob a égide das instâncias paroquiais e a liderança do Pe. João Torres, com a colaboração das entidades administrativas locais e, sobretudo, com o envolvimento generalizado de toda a população (da Freguesia e de várias Freguesias vizinhas), lançou-se à concretização de uma iniciativa que já a projectou muito para lá das fronteiras do nosso País.
O Presépio Vivo de Priscos é já considerado o maior do Continente Europeu, reunindo na sua edição de 2010, mais de 70 cenários e 600 figurantes, num cenário que se estendeu por mais de 40.000 m2.
Como será fácil perceber a preparação de cada uma das edições do evento prolonga-se por quase todo o ano que o antecede, com as centenas de voluntários a entregarem o melhor das suas capacidades nas suas áreas de competências para o qualificar e acrescentar conteúdos cada vez mais inovadores.
Do Campus Romano ao Senado – a que acrescem os julgamentos e respectiva execução de penas na praça pública – da Sinagoga à Arca da Aliança, das lojas de artesanato e demais produtos da terra aos espaços de exibição das artes, ofícios e tradições do antigamente, da Gruta de Belém (onde desde o dia de Natal está um recém-nascido embalado nos mesmos termos do quadro bíblico) ao Palácio do Rei Herodes, são múltiplos os quadros e cenários que se procura retratar com o máximo rigor histórico possível.
Correspondendo ao esforço desta população, os Bracarenses e cidadãos de todo o País têm dado a devida resposta, prestando o tributo ao Presépio com cifras de visitas que ultrapassam as várias dezenas de milhar e que arrastam multidões para cada uma das exibições do evento.
Note-se, aliás, que o esforço generalizado é tanto mais significativo quanto o Presépio Vivo se encontra aberto naqueles que seriam os dias mais propensos para a vivência familiar de cada um, como são os dias 25 de Dezembro e 1 de Janeiro e os demais Sábados e Domingos do período envolvente, incluindo extraordinárias exibições nocturnas.
Para este evento, que movimenta anualmente um volume de visitantes ao nível dos principais eventos turísticos locais, a Câmara Municipal de Braga atribuiu um apoio financeiro de 500 Euros, a que acresceu algum apoio logístico e promocional adicional.
Como se pode ver, não é preciso que iniciativas da sociedade civil que em muito podem aportar ao desenvolvimento de um Concelho sejam integralmente suportadas no erário público ou na capacidade de concretização dessas instâncias.
Sucede, porém, que iniciativas desta natureza, capazes de se assumir como um elemento fortalecedor do espírito comunitário e, em igual extensão, capazes de alavancar a divulgação de um território no plano nacional e internacional e de atrair um volume de turistas tão significativo, deviam merecer outro enquadramento estratégico.
Sem jamais deturpar a sua génese e capacidade de realização eminentemente local, seria interessante sustentar esta iniciativa ou construir a partir da mesma um conjunto de ofertas complementares que pudessem aumentar a sua visibilidade e, porventura, o tempo de permanência dos visitantes no Concelho.
No fundo, seria de supor que, sobretudo em tempos difíceis como aqueles que hoje se vivem, os territórios não desperdiçassem ou desaproveitassem o potencial pleno das suas principais mais-valias, indutoras da criação de riqueza.
No mais, deixo-lhe o desafio para aproveitar uma próxima edição para passar pelas vendas de bolo do caco com chouriço, pelas “tascas” onde pode provar o copo de ginja ou hidromel, e por todos os demais atractivos que lhe pode proporcionar uma tarde de visita ao Presépio.
Para todos os efeitos, será sempre uma tarde muito bem passada!

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