terça-feira, 31 de maio de 2011

Obviamente, MUDAR!

Nenhum País, nenhum território, nenhuma economia pode ficar indiferente às prioridades, às políticas e à conduta daqueles que o/a governam.
Se assim sempre acontece, as Eleições Legislativas do próximo dia 5 de Junho marcam um momento especialmente decisivo para o futuro de Portugal e para as perspectivas que se abrem para os seus agentes económicos, para as diversas instituições da sociedade civil e para o comum dos cidadãos.
Como resulta claro da sucessão de evidências das últimas semanas, por mais que o esforço da máquina de comunicação socialista procure negar o óbvio, Portugal encontra-se hoje numa situação socialmente alarmante, financeiramente depauperada e economicamente debilitada pela exclusiva responsabilidade das políticas erradas que o actual Governo implementou ao longo dos últimos 6 anos.
Com justiça e independência, é possível identificar erros que remontam a anteriores Executivos, boa parte dos quais também do Partido Socialista – que exerceu funções durante 13 dos últimos 16 anos -, nomeadamente na forma como foram proteladas reformas há muito tidas por incontornáveis para a ultrapassagem de muitos dos bloqueios estruturais com que ainda nos confrontamos.
Todavia, a generalidade dos indicadores financeiros, económicos e sociais dos últimos seis anos falam por si.
Em Portugal, o desemprego oficial já atingiu mais de 700.000 cidadãos, a que se juntam muitos outros milhares que abandonaram o mercado de trabalho ou que optaram por procurar a sua sorte no exterior. Destes, muitos são jovens e extremamente qualificados, a que se junta um outro contingente não desprezível de desempregados de longa duração, muitos dos quais já não usufruem de qualquer apoio social.
Também por estas razões, cresce o número de famílias com sérias dificuldades económicas para fazer face aos seus encargos correntes, agravam-se as desigualdades sociais, propagam-se os fenómenos de pobreza expressa ou envergonhada, apenas mitigados pela heróica intervenção das entidades do foro social.
Os números do recorrente descalabro orçamental, o galopante crescimento da dívida pública e do nosso défice externo, as extremas dificuldades do sector financeiro e, por essa via, do acesso ao crédito da generalidade da economia tornaram-se já uma espécie de ladainha diária na boca dos analistas e são sistematicamente confirmadas pela generalidade dos estudos e declarações de responsáveis de entidades independentes, nacionais e internacionais.
A consumada ajuda externa, com contornos que o actual Primeiro-Ministro continua a querer escamotear, face à gravidade e sacrifícios associados a muitas das medidas que aí se encontram discriminadas de forma calendarizada e quantificada, foi o remédio tardio para um doente a caminho de um estado terminal.
A mesma envolve, porém, um conjunto de decisões incontornáveis, cuja margem de flexibilidade existente apenas possibilita a afirmação de prioridades e caminhos distintos rumo a um mesmo destino de severa correcção dos nossos desequilíbrios e da manifesta obesidade do Estado.
Nessas circunstâncias, é essencial que o País tenha ao leme um Primeiro-Ministro e um Governo vinculado a uma política de verdade, corajoso, determinado, mas sensível aos reais problemas que afectam os Portugueses no seu dia-a-dia.
A governação de José Sócrates foi feita no registo oposto, com a obstinação a aliar-se à arrogância, ao condicionamento democrático, à megalomania, à ilusão, à partidarização do aparelho de Estado, das Empresas Públicas e, até, de entidades privadas.
O vento que sopra nas ventoinhas das propaladas energias renováveis não afasta as nuvens negras que ocultam o sol do dia-a-dia de uma parte substancial da população portuguesa.
A “reforma cultural” da sociedade não nos transformou numa economia moderna e competitiva capaz de pedir meças aos nossos pares europeus e de resistir às investidas dos países (antes) em vias de desenvolvimento.
A qualificação estatística dos nossos recursos humanos não lhes garantiu as oportunidades de progressão social e económica que o aparente bom desempenho relativo insistia em prometer.
A fraude de um insustentável Estado Social, esqueceu que a primeira base para a subsistência de qualquer pessoa é a cana e não o peixe.
Só nos ecrãs dos Magalhães é que Portugal ainda aparece pintado em tons cor-de-rosa, mas temos que bloquear o acesso a sítios estrangeiros se não quisermos constatar a forma como somos ridicularizados no estrangeiro face à visível perda de credibilidade dos nossos governantes.
A partir do dia 6 de Junho, Portugal vai viver um dos períodos mais duros da sua História, exigindo a superação nacional e um alargado consenso para conseguir desafiar as adversidades e levar a bom porto o esforço de regeneração que não podemos voltar a adiar.
Este País, este nosso amado País, cairá seguramente numa situação bem pior que a que hoje vemos na Grécia se continuar mais um ano que seja sob o jugo dos desmandos de José Sócrates e dos seus pares.
Se outra razão não houvesse, que as há, essa bastaria para que hoje lhe apelasse a um voto expresso, maciço e determinado no sentido da mudança. Por Portugal.

terça-feira, 24 de maio de 2011

O eleitor-consumidor

A escolha de um eleitor no exercício (ou não) do seu direito de voto assemelha-se em vários aspectos às escolhas que o mesmo cidadão faz no seu dia-a-dia enquanto consumidor de diversos bens e serviços.
A diferença, substancial claro está, é que quer não exerça o seu direito de voto, quer o faça em relação a uma das candidaturas derrotadas acaba por ficar sujeito a “consumir” o output da escolha da maioria do colectivo a que pertence, com óbvias repercussões em diferentes aspectos da sua vida.
Aliás, este é claramente o aspecto mais distintivo das duas circunstâncias na medida em que, no limite, o conjunto dos consumidores pode recusar-se a consumir qualquer dos produtos existentes no mercado, assim incentivando os respectivos produtores/fornecedores a melhorarem os seus atributos em linha com as preferências dos seus potenciais clientes.
No caso em apreço, porém, pode considerar-se que a governação, nacional, regional ou local, é um “bem de primeira necessidade”, sendo que ou o cidadão-eleitor faz a sua escolha do melhor de entre os “produtos” disponíveis, ou, se se abstiver ou votar branco ou nulo, alguém fará a escolha por si.
Daí que, em linha com os objectivos eleitorais específicos que perseguem, se venha a considerar que os partidos/candidaturas disponíveis no espectro democrático nem sempre correspondem aos anseios dos eleitores e, muitas das vezes, não fazem sequer um esforço considerável para se aproximarem das suas ambições.
No mais, as semelhanças encontram-se sobretudo nas fundamentações do processo de escolha do eleitor-consumidor.
Como em relação a qualquer bem ou serviço, os eleitores dão especial atenção ao aspecto “preço”, aqui mensurado por duas vias: pelos diferentes custos que terá que suportar no futuro (impostos, taxas e outros preços aplicáveis aos serviços públicos de que irá usufruir); e pelos benefícios financeiros que espera obter (subsídios, abonos, incrementos expectáveis de rendimento, etc.).
A juntar a este aspecto, cada eleitor-consumidor atenderá à “utilidade” que poderá retirar do consumo de cada um dos candidatos a quem pode entregar o seu voto. Para tal, há que ter em conta as missões que estão confiadas aos Governos, as quais se confundem em larga escala com os papéis que o Estado pode ou deve assumir na sua relação com os cidadãos.
A título de exemplo, independentemente do custo (factor antes considerado na vertente preço), os cidadãos quererão usufruir de boas condições de segurança, de serviços públicos administrativos eficientes, de serviços de educação ou saúde de excelência, de serviços de justiça capazes, de boas perspectivas para o exercício das actividades económicas, de políticas que promovam a justiça social, de oportunidades de acesso ao desporto, lazer e cultura, entre vários outros aspectos que configuram as áreas de intervenção dos poderes a eleger.
A outro nível, cada “produto” disponível tem também atributos, reais ou percebidos, que podem reforçar a “satisfação” dos eleitores-consumidores em outros níveis da sua escala de preferências. Assim, alguns eleitores tenderão a valorizar aspectos menos quantificáveis de forma objectiva tais como: a empatia, a seriedade, a fiabilidade, a experiência, o aspecto, o trato ou a postura os candidatos.
Naturalmente, cada um destes atributos tem implícitos aspectos que convergem com os anteriores, mas são por si indutores de uma superior valorização ou desvalorização dos candidatos aos olhos dos eleitores-consumidores.
De facto, é expectável que um candidato “sério” não incorra posteriormente em práticas de corrupção ou outras lesivas do interesse público. È antecipável que um candidato “fiável” estará a falar verdade e não surpreenderá os eleitores/cidadãos após a sua eleição com discursos ou medidas contrários aos que agora formula. É de presumir que um candidato mais próximo dos cidadãos esteja mais vocacionado para procurar responder aos seus reais problemas em cada uma das circunstâncias. E assim poderíamos continuar de forma quase interminável…
Decorre deste conjunto de reflexões que quanto mais profissionalizada estiver uma máquina de campanha mais a mesma recorrerá às técnicas de marketing comummente aplicáveis aos produtos e serviços para tentar reforçar a adesão ao seu candidato.
Acontece que, tal como a generalidade dos marketeers estão vinculados a códigos de ética no exercício das suas profissões que os impedem de desenvolver determinado tipo de práticas que se traduzam na tentativa de enganar os potenciais consumidores, também os gestores das campanhas políticas e os candidatos deviam ser capazes de se impor determinados limites.
Todavia, sucedem-se os exemplos de situações que configuram más práticas de marketing no plano ético e criticáveis acções de promoção política.
Mas, quando se chega ao ponto de mobilizar cidadãos imigrantes para participar em actos de campanha a troco de uma merenda, descemos ao grau zero do respeito pela dignidade das pessoas e pela inteligência dos eleitores.
Aí, a política e quem assim a pratica desce abaixo do rating da República: é um verdadeiro lixo!

terça-feira, 17 de maio de 2011

MOU

“MOU” é, em muita da imprensa especializada internacional, o diminutivo porque é conhecida uma das principais exportações de Portugal e uma das melhores ilustrações do sucesso ímpar dos seus cidadãos em diversos sectores de actividade.
Obviamente, trata-se de uma versão reduzida de Mourinho, José Mourinho, o tão conceituado, quanto polémico, quanto bem sucedido, técnico de futebol que, como poucos, projecta o nome de Portugal pelos quatro cantos do mundo e exacerba o orgulho nacional.
Todavia, no dealbar do presente mês de Maio, uma mera pesquisa nos principais motores da internet permite comprovar que a conjugação de “MOU” com “Portugal” não vê José Mourinho a rivalizar apenas com a simpática freguesia de Vila Mou, do concelho de Viana do Castelo, mas antes a ser claramente ultrapassado pelo “Memorandum of Understanding on Specific Economic Policy Conditionality”, vulgarmente designado por MoU.
Este MoU não é mais do que o acordo celebrado entre o Estado Português e a Troika representativa do Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e Comissão Europeia (CE), no quadro do processo de assistência financeira externa ao nosso País, recentemente desencadeado.
Ao invés do MOU original, este MoU é tudo menos um motivo de orgulho para o ego nacional, surgindo como a demonstração cabal da complicadíssima situação financeira em que o País se encontra, em resultado do total descalabro em que se transformaram os últimos seis anos de governação socialista sob a liderança de José Sócrates.
Como qualquer criança pode também comprovar nos inúmeros estudos independentes e dados estatísticos hoje acessíveis à distância de um clique, foi este o período da duplicação da nossa dívida externa, para montantes que já excedem o montante da riqueza nacional produzida num ano; foi este o período de maior crescimento do desemprego e retracção económica dos tempos recentes da História de Portugal; foi este o período em que se verificou o maior agravamento das condições económicas e sociais dos portugueses e em que se alargou o fosso entre os diferentes estratos económicos e sociais da população (com a gravíssima ameaça que hoje impende sobre a própria sobrevivência da classe média), por mais que alguns apregoem a proliferação de apoios e subsídios que hoje se revelam genericamente mal aplicados e financeiramente insustentáveis; foram também estes os seis anos em que se deu o maior agravamento fiscal sobre as poupanças de cidadãos e os lucros das empresas e em que se registaram mais falências de empresas e processos de insolvência individual.
A lista de evidências seria quase interminável, na directa proporção dos erros e fracassos dos Governos de José Sócrates, com a complacência de todos quantos permitiram a continuidade das suas malfeitorias ao desenvolvimento do País em Setembro de 2009.
O MoU não é um mero acordo de cavalheiros, nem um daqueles contratos com muitas letras miudinhas que se celebram com as instituições financeiras e determinadas empresas prestadoras de serviços, que nos fazem duvidar se estamos a prestar atenção às implicações de todas as cláusulas a que nos estamos a vincular.
Aqui, as letras, as palavras e as regras são bem claras à partida e ninguém pode fazer de conta que não percebeu muito bem o que estava escrito neste ou naquele ponto ou revelar-se surpreendido perante as determinações a que se sujeitou voluntariamente.
Quaisquer que sejam os juízos que se possam fazer sobre as motivações ou a razoabilidade das condições impostas pelos nossos financiadores externos, não há de facto margem para dúvidas: se Portugal quer receber apoio externo para fazer face à situação de total debilidade financeira em que se encontra – e que, na opinião dos representantes destas entidades, já justificava o recurso ao apoio externo há largos meses, o que até teria potenciado o acesso ao crédito em melhores condições -, tem que encetar um conjunto profundo de reformas que garantam um real processo de consolidação orçamental e a ultrapassagem de uma série de bloqueios estruturais, que contribua para o reforço da sua competitividade e do seu potencial de crescimento económico futuro.
O MoU é assim claro nos objectivos, nas metas, na calendarização e no caminho, não se resumindo a um conjunto de orientações genéricas, mas precisando as medidas concretas que terão que ser aplicadas de uma forma transversal a quase todas as áreas de Governo (ou, se quisermos, de gestão da coisa pública).
Nada escapa: da política orçamental e fiscal à regulamentação do sistema financeiro; das áreas da saúde, educação, energia, transportes, telecomunicações ao sistema judicial; da gestão das empresas públicas às parcerias público-privadas; da reforma da Administração Pública à reorganização administrativa do Estado e à reestruturação da Administração local; do mercado de trabalho aos mercados de bens e serviços ao mercado de habitação.
Tal como alguns realisticamente anunciaram, o MoU é, por si, o tronco principal de qualquer Programa de Governo resultante das Eleições Legislativas de 5 de Junho próximo. Não o reconhecer é continuar no engodo que nos conduziu até este ponto de não retorno.
Mas, curiosamente, poucos dias depois de o mesmo ter sido subscrito já vemos os mesmos responsáveis do actual Governo a recusarem liminarmente as propostas que o mesmo impõe, seja na redução das Autarquias locais, seja na redução significativa da Taxa Social única, seja em várias outras áreas e medidas que o MoU especifica.
Esquecer-se-ão que a campanha eleitoral termina no próximo dia 3 de Junho e que os resultados destas políticas ficaram sujeitos a um escrutínio periódico e próximo destas entidades, sob pena de serem recusados novos financiamentos ou agravadas as já por si “muito favoráveis” taxas de juro que iremos suportar nestes empréstimos?
Ou terão já avisado os representantes da Troika para não prestarem atenção aos disparates com que pretendem voltar a enganar os Portugueses na campanha eleitoral em curso, visto que, se em tal foram bem sucedidos, não deixarão de acatar os castigos impostos pelo seu mau comportamento dos últimos 6 anos após a tomada de posse do novo Governo?

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O nosso Dia da Europa

Desde 1986, a União Europeia assinala no dia 9 de Maio o “Dia da Europa” com um conjunto de iniciativas que visam reforçar a identidade europeia e aproximar os cidadãos dos valores e das instituições da União.
Em concreto, esta efeméride assinala a data em que o então Ministro Francês dos Negócios Estrangeiros, Robert Schuman, apresentou em 1950 as bases de um projecto equivalente ao que hoje configura a União Europeia, naquela que foi a primeira proposta estruturada a dar sequência às ideias antes avançadas por Jean Monnet.
Como é sabido, os Portugueses sempre foram dos povos mais pró-europeístas de entre todos os que habitam nos Estados-membros da União, segundo os dados evidenciados pelos sucessivos Eurobarómetros produzidos pela Comissão Europeia.
Todavia, no último estudo do género, divulgado em Fevereiro de 2011, apenas 50% dos Portugueses inquiridos diziam confiar na União Europeia. Ainda assim, Portugal era o 5º País com mais alto grau de confiança na União de entre os que compunham a Europa dos 15, sendo porém largamente ultrapassado neste inquérito pela quase generalidade dos países do Leste Europeu que tiveram a sua adesão no passado recente.
Ora, pode considerar-se que este é um fenómeno natural e que, perante o cenário de dificuldades com que hoje se confrontam alguns dos Estados-membros, a União deixe de aí ser perspectivada como uma fonte de apoios, benesses e factores de desenvolvimento, para serem enaltecidas questões como a rigidez das suas regras, a homogeneização de políticas, a imposição de uma superior disciplina orçamental e não só e a sua incapacidade para resolver por si os problemas económicos e sociais dos diferentes países e cidadãos Europeus.
De igual forma, parece também natural que seja nos países com maiores debilidades económicas e financeiras que os potenciais novos alargamentos registem a maior quebra de popularidade, como mais uma vez se verificou na Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha.
Seja como for, nas actuais circunstâncias, é de estranhar que o Governo não tenha promovido uma campanha de mobilização nacional, tal como os territórios ocupados costumavam fazer para apaziguar a possível ira dos invasores, em que se apelasse à colocação de um bandeira da União Europeia nas janelas das casas e em cada praça das nossas cidades, devidamente acompanhada por marchas simbólicas em que as crianças das escolas agitassem a bandeira estrelada sobre fundo azul, enquanto envergavam t-shirts com a palavra “Obrigado”, escrita nas diferentes línguas dos Estados-membros da União Europeia.
Bem pelo contrário, ao saber que foram os representantes das instituições europeias aqueles que exigiram um superior grau de sacrifícios e de medidas disciplinadoras do descontrolo orçamental do Estado Português – mais até do que o temível Fundo Monetário Internacional –, o ainda Primeiro-Ministro aproveitou para exibir a sua recorrente faceta despudorada e artificial, achincalhando os financiadores e procurando enganar ostensivamente os Portugueses.
Ao invés de assumir o papel de gestor de um país salvo da bancarrota pela ajuda externa e de fazer publicamente o seu acto de contrição e arrependimento pela forma como conduziu Portugal a este degradante estado de coisas em apenas 6 anos de governação, José Sócrates encostou fanfarrão o palito ao canto da boca, perguntou ao Luís qual era o lado que o favorecia mais e, apesar da verdadeira “tareia” que o País está a levar, exclamou: “- Ainda querem mais?” Ou, como diria o saudoso Jorge Coelho, “- Quem se mete com o PS, leva!
Ao seu lado, mudo e quedo, o antigo fiel escudeiro perdia-se já não entre os números do Orçamento e dos PECs mas entre as frases do teleponto, hesitando entre rir, chorar ou corar de vergonha.
Nos dias que se seguiram, os membros da Troika e vários líderes europeus fizeram questão de lembrar que ao arrastar até ao limite (ou para lá dele) o pedido de ajuda externa, o Governo Português agravara exponencialmente os riscos financeiros do País e os custos do processo de reestruturação orçamental, de que resultaram medidas mais gravosas do que as que constavam do PEC IV, reprovado (e bem) na Assembleia da República face à manifesta incapacidade que o mesmo evidenciava para dar resposta cabal aos problemas do País.
Mais, contrapuseram ao discurso triunfal e de facilidades sempre presente na boca de José Sócrates o apelo ao cumprimento escrupuloso das duras medidas consagradas no Memorando de Entendimento, alertando para a recessão prolongada, para o aumento do desemprego e para os múltiplos sacrifícios com que os Portugueses terão que viver os anos mais próximos.
Já esta semana, o líder do Partido Socialista voltava a ser tema de artigos de opinião do Financial Times, em que se enfatizava o seu apego pelas inverdades e a sua péssima gestão da crise, questionando-se mesmo se a União Monetária pode sobreviver com políticos deste calibre.
Por cá, José Sócrates e o PS continuam a vender a ideia de que, com eles, Portugal será capaz de vencer a Europa. A Liga Europa, seguramente…

terça-feira, 3 de maio de 2011

Antes vazio

A cerca de um mês das próximas Eleições Legislativas, os vários partidos políticos concorrentes vão cumprindo com as etapas expectáveis do processo pré-eleitoral: foram aprovadas e entregues as listas dos candidatos a deputados pelos vários círculos; são montadas as estruturas de campanha e apresentados os respectivos orçamentos ao Tribunal Constitucional; vão sendo tornadas públicas as principais orientações das novas políticas governativas.
A cada um destes níveis, as incidências já conhecidas justificam algumas reflexões pertinentes, mesmo considerando, como parece verificar-se, que estes factores não são muitas vezes os mais determinantes para as decisões assumidas pelos eleitores na data do sufrágio eleitoral.
Ao nível das candidaturas, e cingindo-nos apenas aos dois principais partidos em compita, evidenciam-se duas tendências fundamentais.
Do lado do PSD, foi dada sequência ao processo de renovação dos quadros políticos iniciado com Manuela Ferreira Leite, ao mesmo tempo que se fez uma aposta no envolvimento crescente de personalidades independentes de créditos reconhecidos dos mais diversos quadrantes sociais e profissionais.
Do lado do PS, além do recrutamento de algumas figuras independentes no plano político, mas dependentes no quadro institucional das funções que exercem (de que se destaca o líder da AICEP, Basílio Horta), nota-se a aposta nos quadros políticos do núcleo duro da governação de José Sócrates.
Neste âmbito, não deixa de ser curioso que enquanto alguns procuravam valorizar a recusa de participação activa nestas eleições dos ditos senadores do PSD (ex-líderes e algumas das suas figuras de proa das últimas décadas), se procurasse escamotear a liquidação do “pilar dos pilares” da política do Governo dos últimos anos.
Depois de travar uma batalha titânica na defesa do indefensável em que se transformaram as opções políticas e financeiras do Governo Socialista, o Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, não mereceu sequer o convite de José Sócrates para constar das listas de candidatos do Partido do Governo.
Ao prescindir de forma sumária do seu actual número dois, José Sócrates aproveitou para arranjar mais um bode expiatório para a visível degradação das condições económicas do País e para os incontornáveis sacrifícios que resultarão do financiamento externo.
Mais do que uma ilustração do carácter e do espírito de lealdade do Primeiro-Ministro ainda em funções, esta decisão deve ser lida como a mais clarividente auto-avaliação do trabalho realizado, de que Teixeira dos Santos foi apenas o rosto mais visível.
Relativamente às acções de campanha, a conjuntura de crise actual e a costela demagógico-populista da generalidade das forças partidárias, leva-as a assumir como desiderato a contenção dos custos e a redução das acções de promoção das candidaturas nos seus diferentes suportes.
Pessoalmente, desde que não sejam utilizados meios públicos para fins de promoção das candidaturas (que não por via das subvenções legais) e que as empresas públicas não sejam levadas a celebrar contratos de sponsorização de personalidades que se disponham a dar o apoio público a certos partidos, acho que não se deve cair em exageros.
As campanhas eleitorais são períodos nobres do exercício democrático e devem servir para que as várias forças em confronto façam chegar as suas mensagens aos eleitores, ajudando-os na decisão que irão tomar.
Ora, independentemente do seu custo, alguém pode avaliar de forma rigorosa o impacto efectivo (nessa perspectiva) de cada um dos suportes de comunicação utilizáveis, entre, por exemplo, um outdoor, um flyer, uma acção de rua ou uma sessão de esclarecimento público?
Levando esta lógica ao limite, não haverá até um custo de oportunidade associado à não veiculação de forma capaz das ideias de cada uma das candidaturas?
E, ainda do ponto de vista económico, se é verdade que muito do merchandising de campanha é hoje importado da China e países afins (admito mesmo que o material que o PS vai utilizar já estivesse encomendado há alguns meses), não é verdade que os períodos de campanha são também um tempo de dinamização de certos sectores da actividade económica (gráficas, empresas de comunicação e publicidade, designers, etc.)?
Resta, pois, abordar a questão do Programa Eleitoral. E se é visível que os eleitores tendem normalmente a prescindir da leitura dos programas eleitorais dos partidos/candidaturas e a agarrar-se a uma ou duas bandeiras mais repetidas durante a campanha, a verdade é que nas actuais circunstâncias, os programas vêem o seu protagonismo ainda mais reduzido.
De facto, ao invés de um leque alargado de opções políticas, estes Programas serão uma espécie de escolha múltipla entre as opções alternativas que os financiadores externos imporão como contrapartida.
E, sendo assim, é no mínimo um acto de honestidade política não avançar com qualquer programa formal antes de ser conhecido o resultado do trabalho e das negociações com a Troika externa.
Ao fazer de conta, como o PS fez na passada semana, que nada disso importa para os anos que virão, José Sócrates apenas está a ser coerente e a dizer aos Portugueses que nada do que ali está escrito deve ser tomado a sério, tal como sucedeu em 2005 e 2009.
Por isso, cumpre-me rejeitar as críticas de quem destacou que cerca de 30% das páginas do Programa Eleitoral do PS (entre títulos e separadores) estão em branco. Afinal, essas são as mais verdadeiras desse documento…