terça-feira, 7 de abril de 2009

Um G-20 para o Século XXI

O G-20, ou Grupo dos 20, é um órgão informal que reúne periodicamente os Ministros das Finanças e os Governadores dos Bancos Centrais de dezanove dos mais importantes países industrializados ou em vias de desenvolvimento, versando sobre as matérias mais candentes da ordem económica internacional. O 20º elemento é a própria União Europeia, que surge representada neste fórum pela Presidência rotativa do Conselho Europeu e pelo Governador do Banco Central Europeu.
Desde 1999, data da sua constituição, o Grupo dos 20 promoveu já vários encontros de que resultaram importantes contributos para a ultrapassagem de dificuldades pontuais do sistema económico e financeiro mundial, bem assim como para a prossecução de outros objectivos comuns, como sejam o combate ao financiamento do terrorismo ou a imposição de padrões de especial transparência em matéria de fiscalidade ou de lavagem de dinheiro.
De uma forma geral, pode dizer-se que os esforços de cooperação internacional que resultaram deste organismo informal, assumiram um papel de relevo na ultrapassagem de crises económicas e financeiras recentes e, por esta via, contribuíram para a consolidação do crescimento económico mundial.
Sabendo-se da existência anterior de fora de discussão internacional que agregavam apenas as economias mais desenvolvidas, com especial relevo para o G-7, o G-20 conseguiu também o importante papel de aglutinar a tais discussões algumas das economias ainda em vias de desenvolvimento mas que, de há alguns anos a esta parte, vinham assumindo um claro protagonismo e pujança na cena económica mundial.
Assim, o G-20 é composto pelos representantes dos seguintes 19 Países: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos da América, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia. Como referido, junta-se-lhes, como membro de pleno direito a União Europeia.
Enquanto convidados, participam também nestas reuniões os responsáveis máximos e de alguns departamentos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, na lógica de assegurar a devida articulação das conclusões do G-20 com os principais organismos económicos e financeiros mundiais.
Em termos meramente estatísticos, a importância deste fórum reflecte-se no facto de o G-20 agregar um conjunto de membros que representam as diversas regiões do mundo que, no seu conjunto, reúnem 90 por cento do Produto Nacional Bruto mundial, dois terços da população e 80% do comércio internacional.
Pese embora os méritos acumulados na sua ainda breve história, os líderes dos G-20 que, face à especial conjuntura mundial, marcaram presença na Cimeira de Londres, que teve lugar nos passados dias 2 e 3 de Abril, souberam estar à altura dos desafios que pendiam sobre os seus ombros, ao ponto de se poder considerar este encontro como verdadeiramente histórico.
Para tal, poder-se-ia relevar a capacidade de obter consensos dessa verdadeira “estrela pop“ da cena política mundial em que se transformou o Presidente Norte-Americano Barack Obama. Neste caso, com o especial mérito de assumir uma postura suficientemente construtiva para abdicar de algumas das propostas que assumiu, em conjunto com Gordon Brown – o Primeiro-Ministro Britânico -, no sentido de que se implementassem apoios orçamentais directos às economias de cada país, ideia essa que não mereceu o acolhimento da maioria dos membros.
Poder-se-ia igualmente destacar a “institucionalização” do peso da China, que surgiu nesta Cimeira não como um mero outsider com boas perspectivas de afirmação no futuro próximo, mas antes como uma economia liderante no contexto económico mundial. A este nível, registe--se que é do “cofre” Chinês que sai parte importante das verbas que vão financiar o plano de investimentos acordado, da mesma forma que houve alguma abertura dos responsáveis chineses para viabilizar o ataque aos paraísos fiscais.
Ainda, poder-se-ia vincar as “vitórias” alcançadas por líderes europeus como Sarkozy e Merkel que, conseguiram fazer prevalecer as posições que defendiam à partida e sobre as quais ameaçaram até vir a extremar posições.
Mas, mais do que as vitórias individuais, importa realçar as extraordinárias conquistas colectivas: na instituição de novos mecanismos de supervisão financeira; nos apoios ao desenvolvimento de um comércio internacional livre das amarras proteccionistas; nos estímulos ao crescimento económico mundial através da canalização de um importante volume de recursos financeiros; nos princípios adoptados para o combate aos paraísos fiscais.
Sob a capa dos novos equilíbrios e protagonistas que emergem à escala planetária, os líderes do Grupo dos 20 ecoaram também: “Sim, nós podemos!”.
E, se em linha com os compromissos agora assumidos, puderem assegurar, aquando de uma próxima reunião, que “Sim, nós fizemos!”, talvez as tradicionais manifestações contra a globalização se possam transformar em demonstrações pacíficas, de reconhecimento público pelo contributo para a prosperidade mundial.

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