sexta-feira, 7 de maio de 2010

José contra o vulcão


Na Europa e no mundo, o centro das atenções públicas das últimas semanas caiu sobre as implicações da erupção do vulcão islandês Eyjafjallajokull sobre o tráfego aéreo internacional.
Como então foi possível observar, esse fenómeno natural provocou situações verdadeiramente impensáveis para milhares de cidadãos e até para Chefes de Estado, com as incidências vividas entre outros por Cavaco Silva e Angela Merkel no regresso aos seus países de origem após visitas oficiais ao estrangeiro.
Com os voos cancelados, como então sucedeu, ou a voarem “baixinho” – para não se acordar o vulcão Katla (vizinho do Eyjafjallajokull e bastante mais potente) -, foi possível ouvir outras erupções mais comuns, mas igualmente devastadoras para os seus potenciais alvos, vindas directamente da efervescência dos mercados financeiros.
Aqui, a lava começou por atingir a Grécia mas a nuvem de cinzas rapidamente alastrou pelo Mediterrâneo e acabou por atingir a Espanha e Portugal, neste caso com a violência visível na descida de dois níveis no rating da nossa dívida pública junto da Standard & Poor’s, de A+ para A-.
Na altura, esse fora o corolário de dias entusiasmantes em que Portugal galgou, a igual velocidade, posições no ranking da FIFA e na lista dos países com maior risco de incumprimento a nível mundial. No primeiro caso, batendo potências como a Holanda, a Itália, a Alemanha, a Argentina ou a Inglaterra. No segundo, ultrapassando especialistas como o Líbano, o Iraque, ou a “falida” Islândia.
É aqui que surge o herói da nossa história, num momento cujos contornos tem enormes semelhanças com o filme protagonizado por Tom Hanks no início da década de 90.
Tal como José, Joe Banks (a personagem assumida por Tom Hanks) tinha um emprego numa empresa que se ocupava a fazer malfeitorias aos seus clientes, através de práticas odiosas e desumanas.
Quando lhe é diagnosticada uma doença fatal que só lhe possibilitará mais alguns meses de vida, Joe aceita o desafio de um magnata, disponibilizando-se para saltar voluntariamente para dentro de um vulcão na ilha de Waponi Woo, de forma a apaziguar o Deus do vulcão e a pacificar os habitantes da ilha.
Perante a pré-anunciada oclusão da sua actividade governativa, quer pelas dores provocadas pelos sintomas internos do partido que o suporta, quer pelos diagnósticos contundentes dos mais reputados especialistas nacionais e internacionais, José disponibiliza-se também para a tarefa heróica de um sacrifício em prol do apaziguamento do vulcão financeiro.
Depois de 5 anos de desvarios, de simulacros reformistas, de despesismo e de artificialismos, José propõe-se deixar uma última marca que possa inverter o curso da história e devolver ao País o rumo da esperança, do crescimento e, até, do rigor orçamental.
Decidido, ouve os avisos do seu vizinho Aníbal, segue os conselhos do seu colega Fernando, acata as ameaças que lhe chegam de fora dos colaboradores do José Manuel. Procura em Pedro e Paulo os apoios que lhe possam dar força para o caminho, na certeza de que será seguramente criticado por Francisco e Jerónimo, que continuam a viver (ou a fazer os outros crer que é possível viver) num mundo de ilusões.
Lá fora, continua a ouvir-se o ruído ensurdecedor das vozes que sussurram: “-És o próximo! Vais cair! Não te safas!”, ao mesmo tempo que vê da janela uma Europa nervosa a dar a mão a uma Grécia já de joelhos e a pedir clemência.
Ainda mais determinado, calça as sapatilhas com que fez jogging na Praça Vermelha e guarda na mochila de viagem a versão encadernada do PEC. Num segundo impulso, passa os olhos pelos estudos que sustentam os seus mega-projectos de investimento mas acaba por levar consigo apenas a análise de viabilidade económica da auto-estrada do Centro.
Reconfortado, chama os órgãos de comunicação social amigos para fazerem a cobertura deste momento histórico e inicia a escalada da montanha.
Já com o povo em êxtase, José vira-se para a multidão e dispõe-se a dizer umas últimas palavras: “-Vulcão? Qual Vulcão?

1 comentário:

Unknown disse...

Boa! Estas inspirado.