2009 em marcha-atrás
A cada final do mês de Dezembro, cumpre fazer a retrospectiva do ano que se apresta a findar e formular votos e desejos para o ano novo que se avizinha num ritual cíclico que faz equiparar as nossas vidas aos mais elementares mecanismos de controlo de gestão de uma qualquer organização.
Começando pelo fim, o ano de 2010 chegará com um enorme manto de incerteza, tal é o panorama de instabilidade social, económica e política que se vislumbra no horizonte.
E se na vertente política bastará que os principais protagonistas se foquem no essencial e deixem de fazer jogos estratégicos para tentar fazer prevalecer os seus interesses, nas componentes económica e social manter-se-ão os tempos de dificuldade.
Afinal, por mais proclamações oficiais que possam ser feitas por uma qualquer Alice no País das Maravilhas, o cenário é ainda pesado e não há miríade de investimento público alguma que possa contribuir para o inverter da situação, quer numa óptica de curto, quer de médio e longo prazo.
Falta uma estratégia de desenvolvimento económico sustentada. Faltam agentes económicos dinâmicos e capazes de alicerçar superiores níveis de criação de riqueza e emprego. Falta um real espírito de inovação, empreendedorismo e produtividade. Falta um enquadramento institucional que catalise o investimento privado e proteja o normal desenrolar da actividade económica. Falta uma outra cultura financeira. Faltam qualificações que não se cinjam aos progressos estatísticos que resultam de um qualquer oportunismo. Falta um Estado que proteja mas não se limite a sustentar a indolência. Falta Governo. Falta vontade. Falta verdade. Falta valor.
Neste quadro geral, nem sei se os bons exemplos e os parcos casos de sucesso servem para mitigar a demais realidade ou se sobre eles cai a expectativa da inevitabilidade de um destino que de forma alguma conseguirão contornar e devem ser vistos como uma expressão fugaz de excepção.
Poder-se-á dizer que esta é apenas a versão pessimista que vem grassando pela opinião pública e publicada de alguns anos a esta parte. Mas a verdade é que os ecos de 2009 em muito ajudaram a dar corpo a este sentimento geral.
Num ano que se iniciou com o País a lamber as feridas da falência iminente de duas instituições financeiras de relevo -o BPN e o BPP-, o que deu origem a uma incontrolável injecção de fundos públicos e a uma total perda de credibilidade dos mecanismos de supervisão, o próprio Estado mergulha nas malhas da pré-insolvência, com uma enorme derrapagem do défice orçamental, com uma dívida pública (principalmente externa) galopante e com o impacto deste quadro sobre a notação de rating do País.
Não muito longe, colegas de longa data da aventura europeia atravessam dificuldades semelhantes, num exemplo que deveria ser mais elucidativo quanto ao impacto de certo tipo de descuidos e mais clarividente quanto ao caminho a seguir.
À primeira esquina, bem o sabemos, voltará a ser exigido um esforço de contenção, um contributo de todos para o desiderato colectivo que rapidamente sentiremos no apetite da máquina fiscal e nas políticas que continuam a achar que o Estado gere melhor os recursos que os cidadãos.
Do par de robalos que se transaccionou numa qualquer banca de peixe mais ou menos graúdo aos negócios da comunicação social que validam reorientações editoriais al gusto, este não foi de todo um ano de boas notícias.
E, por mais que se voltassem a ver os shoppings a transbordar nas vésperas de Natal e os pacotes de férias a esgotar para os mais diversos destinos, os dados do INE sempre serviam para lembrar que o desemprego já ultrapassa os dois dígitos e não deve parar por aqui, mesmo nas zonas que não são estruturalmente deprimidas.
Se em alguns casos os recursos financeiros bebem Red Bull - que lhes dá asas para voarem para outras paragens -, no QREN devem andar a tomar chã de camomila – que lhes provoca tamanha letargia que tardam em sair das gavetas dos responsáveis dos Programas Operacionais.
Mas, ao contrário de muitos dos males antes retratados, aqui o tempo resolve. Só pode.
Um feliz ano de 2010.
Começando pelo fim, o ano de 2010 chegará com um enorme manto de incerteza, tal é o panorama de instabilidade social, económica e política que se vislumbra no horizonte.
E se na vertente política bastará que os principais protagonistas se foquem no essencial e deixem de fazer jogos estratégicos para tentar fazer prevalecer os seus interesses, nas componentes económica e social manter-se-ão os tempos de dificuldade.
Afinal, por mais proclamações oficiais que possam ser feitas por uma qualquer Alice no País das Maravilhas, o cenário é ainda pesado e não há miríade de investimento público alguma que possa contribuir para o inverter da situação, quer numa óptica de curto, quer de médio e longo prazo.
Falta uma estratégia de desenvolvimento económico sustentada. Faltam agentes económicos dinâmicos e capazes de alicerçar superiores níveis de criação de riqueza e emprego. Falta um real espírito de inovação, empreendedorismo e produtividade. Falta um enquadramento institucional que catalise o investimento privado e proteja o normal desenrolar da actividade económica. Falta uma outra cultura financeira. Faltam qualificações que não se cinjam aos progressos estatísticos que resultam de um qualquer oportunismo. Falta um Estado que proteja mas não se limite a sustentar a indolência. Falta Governo. Falta vontade. Falta verdade. Falta valor.
Neste quadro geral, nem sei se os bons exemplos e os parcos casos de sucesso servem para mitigar a demais realidade ou se sobre eles cai a expectativa da inevitabilidade de um destino que de forma alguma conseguirão contornar e devem ser vistos como uma expressão fugaz de excepção.
Poder-se-á dizer que esta é apenas a versão pessimista que vem grassando pela opinião pública e publicada de alguns anos a esta parte. Mas a verdade é que os ecos de 2009 em muito ajudaram a dar corpo a este sentimento geral.
Num ano que se iniciou com o País a lamber as feridas da falência iminente de duas instituições financeiras de relevo -o BPN e o BPP-, o que deu origem a uma incontrolável injecção de fundos públicos e a uma total perda de credibilidade dos mecanismos de supervisão, o próprio Estado mergulha nas malhas da pré-insolvência, com uma enorme derrapagem do défice orçamental, com uma dívida pública (principalmente externa) galopante e com o impacto deste quadro sobre a notação de rating do País.
Não muito longe, colegas de longa data da aventura europeia atravessam dificuldades semelhantes, num exemplo que deveria ser mais elucidativo quanto ao impacto de certo tipo de descuidos e mais clarividente quanto ao caminho a seguir.
À primeira esquina, bem o sabemos, voltará a ser exigido um esforço de contenção, um contributo de todos para o desiderato colectivo que rapidamente sentiremos no apetite da máquina fiscal e nas políticas que continuam a achar que o Estado gere melhor os recursos que os cidadãos.
Do par de robalos que se transaccionou numa qualquer banca de peixe mais ou menos graúdo aos negócios da comunicação social que validam reorientações editoriais al gusto, este não foi de todo um ano de boas notícias.
E, por mais que se voltassem a ver os shoppings a transbordar nas vésperas de Natal e os pacotes de férias a esgotar para os mais diversos destinos, os dados do INE sempre serviam para lembrar que o desemprego já ultrapassa os dois dígitos e não deve parar por aqui, mesmo nas zonas que não são estruturalmente deprimidas.
Se em alguns casos os recursos financeiros bebem Red Bull - que lhes dá asas para voarem para outras paragens -, no QREN devem andar a tomar chã de camomila – que lhes provoca tamanha letargia que tardam em sair das gavetas dos responsáveis dos Programas Operacionais.
Mas, ao contrário de muitos dos males antes retratados, aqui o tempo resolve. Só pode.
Um feliz ano de 2010.
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