sábado, 4 de julho de 2009

10 anos depois


O desafio foi lançado ao anterior Director do Diário do Minho (DM), Pe. João Aguiar Campos e mereceu deste a pronta mas talvez desconfiada adesão: por que não incluir um Suplemento Económico nos novos conteúdos que o DM estava a adicionar semanalmente às suas edições?
O primeiro número viria a ser publicado a 16 de Novembro de 1999, creio que com as mesmas oito páginas de hoje, e já com diversas colaborações pessoais e institucionais, muitas das quais se prolongaram até aos nossos dias.
Graças a todas elas, dos mais reputados consultores, académicos e gestores, de instituições financeiras, associações empresariais ou organismos públicos, o nosso Suplemento conseguiu reunir conteúdos ricos e diversificados, de que temos recebido um excelente eco dos leitores, e pode bem pedir meças a muitas publicações de âmbito nacional.
Se as já longínquas primeiras edições contavam com vários conteúdos que me cabia preparar, o Suplemento de hoje, que continua a receber inúmeras propostas de novas e diferenciadas colaborações, já resiste, na pior das hipóteses, com a pressão do Damião Pereira sobre os “retardatários” e dispensa a participação do seu criador.
Mas, voltando a essa primeira edição e, no caminho, passando pelas várias centenas que se seguiram nesta década, é no mínimo curioso rever os factos que marcaram a actualidade económica da região, do País e do mundo.
No primeiro artigo, “Gracias, Señor Ministro”, evocava-se o contributo do então Ministro da Economia e Finanças do Governo de António Guterres, Pina Moura, no processo que conduziu à aquisição do Banco Totta e Açores e do Crédito Predial Português (então nas mãos de António Champalimaud) pelos espanhóis do Banco Santander Central Hispano.
Curiosamente, poucos anos depois, Pina Moura viria a assumir um superior protagonismo na defesa dos interesses falados em portunhol, ao estar directamente envolvido na aproximação da espanhola Iberdrola ao mercado eléctrico nacional.
Em 1999, Sócrates – o José – era “apenas” o Ministro do Ambiente desse Executivo Governamental, conseguindo maior visibilidade nos debates na RTP com o Primeiro Ministro que o iria anteceder, Pedro Santana Lopes, do que nas disputas sobre a co-incineração com colegas do Partido, com destaque para… Manuel Alegre.
Antes, já Durão Barroso vira o poder “cair-lhe no colo”, depois da “fuga” de Guterres, e antes do próprio deixar o cargo de Primeiro-Ministro para abraçar os desafios da Presidência da Comissão Europeia numa Europa em crescimento contínuo.
Da Europa, veio todo um Quadro Comunitário de Apoio e iniciou-se a implementação do QREN – Quadro de Referência Estratégica Nacional, sem os resultados no plano material e imaterial que dessem o devido seguimento ao verdadeiro salto do nosso crescimento e desenvolvimento que ocorrera durante o período “Cavaquista”.
O Euro chegou também até nós e, no plano financeiro, assistimos à progressiva internacionalização da Bolsa Portuguesa (hoje, NYSE Euronext), por entre os vários booms e crashs que marcaram a época do “capitalismo popular”.
Comigo, o Suplemento viajou por vários Continentes e aqui deu eco do clima económico e das vivências locais, ao mesmo tempo que assistia à distância aos revezes e paixões que proporciona o regresso aos Países de Língua Oficial Portuguesa, por entre a conquista da paz e da retoma económica que os mesmos atravessam.
Vimos como a economia mundial sobreviveu à emergência da ameaça terrorista global e como soçobrou aos excessos do sistema financeiro e à propagação das crises em mercados “globais”.
Por cá, falou-se da crise, do desemprego, da inflação, da subida e da descida dos juros, da subida e descida do petróleo, do investimento directo estrangeiro, da consolidação das contas e do combate ao défice, das múltiplas reformas estruturais prometidas, adiadas ou simuladas.
Sem preocupação de manter um excessivo rigor científico e procurando ir ao encontro dos interesses e dos perfis dos vários tipos de leitores, não hesitei em socorrer-me do humor ou da sátira, de peças com mais de recurso de estilo e de verdadeiros manifestos de intervenção cívica para abordar as mais diversas matérias que contendem com a esfera económica.
Num Norte cada vez mais pobre face ao todo nacional, num Minho cada vez menos valorizado pelos seus próprios protagonistas, jamais descurei a atenção sobre a Braga de todos nós.
A 11 de Dezembro de 2001, no antepenúltimo dos 100 artigos que viria a incluir na primeira colectânea que publiquei, então com prefácio do Professor Marcelo Rebelo de Sousa, escrevia: “Acresce à estrutura económica já existente um conjunto de factores positivos que podem fortalecer as vantagens competitivas do concelho e contribuir para a sua afirmação mais veemente no futuro próximo: a riqueza do seu património etnográfico, cultural e natural; o dinamismo empresarial existente, quer a título individual, quer ao nível associativo; a existência de uma população jovem com um nível crescente de qualificações; o papel da Universidade do Minho e demais Instituições de Ensino Superior ou Profissional; o acesso a uma rede viária incompleta mas satisfatória; a proximidade geográfica e cultural com o resto do Norte de Portugal e com a Galiza.
Por todos estes motivos, Braga reúne características únicas para ver a sua economia sofrer um impulso decisivo ao longo dos próximos anos, assegurando o aumento dos níveis de emprego e da qualidade de vida da população.

Oito anos volvidos, Braga continua uma promessa adiada, num tempo em que é cada vez mais caro adiar o futuro.
Também por isso, a juntar ao período de férias dos Suplementos do DM, estarei ausente destas páginas até ao próximo dia 13 de Outubro.
Mas, prometo, voltarei com a capacidade para reescrever o passado e reconstruir o nosso futuro, para assim entrar da melhor forma na nova década do Suplemento de Economia. Até lá!

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