segunda-feira, 27 de julho de 2009

Macro inaugurações. Nano Seriedade.


Em período pré-eleitoral, e com múltiplas e honrosas excepções de governantes que olham para os eleitores como gente capaz de escrutinar a realidade e de ajuizar perante os comportamentos dos mandantes, não há Governo ou Autarca local que não cuide de reservar para os últimos meses ou semanas dos seus mandatos a exibição da obra e a comprovação do trabalho feito.
Para lá das inaugurações “reais” - de projectos já concluídos e prontos a entrar em funcionamento -, acumulam-se as inaugurações “oficiais” - de equipamentos e intervenções já a carecerem da sua primeira manutenção – e as inaugurações “virtuais” - de obras cuja conclusão está longe de ser vislumbrada mesmo à vista desarmada.
Se tal não bastar, pode juntar-se ainda a mediática visita a “obras em curso” ou o incontornável “lançamento da primeira pedra”, quando não a “apresentação pública do projecto”.
O frenesim chega a ser de tal ordem que o comum dos cidadãos quase aspira a que haja actos eleitorais todos os meses, enquanto elemento catalisador do desenvolvimento e dinamizador da acção de quem governa.
Por acréscimo, como não basta promover tais iniciativas se não houver a correspondente adesão popular para atestar do apreço e regozijo do cidadão-eleitor, eis que se junta a devida dose de comes, bebes e festa, na justa medida necessária aos grandes eventos de massas.
Com tudo isto, sofre o depauperado erário público, que assim se vê forçado a suportar despesas aparentemente supérfluas com o único propósito de satisfazer o ego e a agenda promocional dos governantes-candidatos.
Neste particular, cumpre frisar que o actual Governo e, muito particularmente, o Primeiro-Ministro José Sócrates não se enquadra totalmente no perfil enunciado.
Afinal, por mais que o mesmo recorra sistematicamente às referidas inaugurações “virtuais” e demais instrumentos de dinâmica mediática para Português ver – naquilo que desde cedo alguns classificaram com clarividência como a “política do powerpoint” -, a verdade é que essa prática tem sido um contínuo ao longo de todo o mandato e não apenas na antecâmara das próximas Eleições Legislativas.
Há, porém, excessos que justificação alguma permite aceitar como naturais.
Aquilo que se passou em Braga, na passada sexta-feira, em torno da “inauguração” do Laboratório Internacional Ibérico de Nanotecnologia (vulgo INL), devia servir para reflexão de quem quer que ainda tenha algum bom senso nas esferas de decisão.
Um Rei, um Presidente da República, dois Primeiros-Ministros, dois Ministros da Ciência e um Presidente da Câmara, inauguraram, na presença de alguns académicos, de membros do corpo diplomático e de titulares locais de cargos civis e religiosos, um equipamento que apenas estará em condições de funcionar daqui a vários meses e de que apenas o Auditório e uma sala anexa se encontram concluídos.
Para tal, diz-se por entre o ruidoso silêncio que ninguém desmentiu, que foi necessário um investimento adicional de 1 milhão de Euros, com arranjos de envolvente e afins que o normal retomar das obras após o descerrar da lápide rapidamente destruíram.
Para quê?
Dizem, também, vozes oficiosas, que era necessário dar um sinal desta natureza para “seduzir” os 200 investigadores de topo que agora se quer recrutar a nível internacional.
Mas, pode-se perguntar: não seria possível obter um efeito muito superior trazendo a Braga um milhar dos potenciais investigadores de renome para lhes apresentar o projecto, a cidade e o País? Ou fazendo um road-show pelas mais importantes universidades e centros de investigação a que os mesmos se encontram hoje vinculados?
Seguramente que sim. Mas, apareceria na televisão e nos jornais?

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