sexta-feira, 17 de julho de 2009

Touradas


Primeiro registo de interesses: por mais que admire a elegância dos movimentos a cavalo e a coragem dos forcados que encaram o animal, bem mais poderoso, olhos nos olhos, não sou apreciador de touradas.
E nem invoco, por mais que respeite a posição dos defensores de tal causa, os argumentos do tratamento violento e desigual dos animais em compita, das várias Associações de Protecção dos Direitos dos Animais.
De fora, assisti com algum interesse às disputas que se verificaram ao longo dos últimos meses em torno desta questão que, do ponto de vista estritamente jurídico, daria seguramente pano para mangas.
Pode uma cidade declarar-se “livre de touradas” como fez Viana do Castelo? Pode uma Autarquia “vetar” um espectáculo tauromáquico organizado por um privado em espaço privado licenciado para o efeito, como se pretendia fazer em Braga? E podendo, deve fazê-lo?
Confesso que não tenho uma resposta taxativa para estas questões. Mas sei, porém, que jamais tomaria a iniciativa de organizar uma tourada em Braga (por mais que houvesse um grupo local de adeptos para tal “evento”) por considerar que o mesmo não tem qualquer identificação com a cultura e as tradições locais. Da mesma forma, que vejo com alguma dificuldade que se pudesse vedar a realização destas iniciativas em locais como Barrancos, Campo Maior, Santarém ou Alcácer. Enfim, são opções.
Em todo o caso, estavam já estas considerações algo adormecidas na minha mente quando, de um momento para o outro, a própria vida político-económica do Pais se transformou numa enorme tourada.
E não me refiro apenas à expressiva capacidade gestual do ex-Ministro da Economia que, numa das poucas vezes em que se fez entender de forma clara no decurso do seu mandato, optou por dizer ao líder da Bancada Parlamentar do PCP que ele tinha saudades era do tempo da Reforma Agrária.
Ali ao lado, na Comissão de Inquérito ao caso BPN, a maioria socialista parecia executar uma espécie de pega invertida, fugindo a grande velocidade do touro enfurecido que seria um “relatório final” isento e rigoroso.
Como se tal não bastasse, aquele que devia estar permanentemente à frente do grupo de forcados a quem cabe a supervisão do sistema financeiro nacional, optou pelo conforto do camarote, enquanto um animal descontrolado visava clientes incautos e os recursos dos contribuintes.
Mais, ainda se deu ao luxo de alijar continuamente as suas responsabilidades e vir a público tecer comentários sobre a dita Comissão de Inquérito que reuniam a riqueza vocabular dos comentários de Gabriel Alves – “vê-se aqui a falta de qualidade técnico-táctica dos Senhores Deputados da Oposição” – com a pureza impulsiva do saudoso Jorge Perestrelo – “Boa, PS! Ripa na Rapakeka!!!”
E nós, portugueses, a ver e a dizer: OLÉ?

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