segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Enquanto isso


Um pouco por todo o mundo, as questões do combate ao desemprego e do estímulo à retoma da economia estão na linha da frente das preocupações dos Governos, das Autoridades Monetárias e dos demais organismos que interferem na esfera económica.
Tanto mais que, independentemente dos dados económicos agregados, que se deterioram a cada nova projecção, o que sobressai são os casos ininterruptos de novas falências, de prejuízos crescentes e de despedimentos em massa, nos mais diversos sectores de actividade.
Se olharmos para o caso português, cujos contornos extravasam em muito esta crise global com que temos que nos defrontar, percebemos também que não está apenas em causa o modelo tradicional de desenvolvimento do nosso tecido empresarial: Qimonda, Philips, Citroen, Fehst, Delphi-Grundig são empresas que, embora em proporções diferentes, se deparam com claras dificuldades e que não pertencem aos sectores empresariais mais frágeis e “teoricamente” mais vulneráveis.
Lá por fora, a realidade presente não é também muito simpática. Só ontem, um vasto leque de multinacionais anunciava o despedimento de mais de 70 mil trabalhadores em unidades espalhadas por vários continentes.
Tendo igualmente a situação presente fortes ramificações na esfera financeira das empresas, seja por dificuldades de acesso ao crédito numa óptica de assegurar uma estrutura financeira estável no médio e longo prazo, seja por constrangimentos de tesouraria no imediato, percebe-se que muitas das medidas encetadas tendam a remover tais dificuldades.
Surgiram assim as drásticas reduções das taxas de juro, a criação de mecanismos de garantia de crédito e as políticas de bonificação dos financiamentos concedidos a certos tipos de agentes económicos de interesse estratégico.
Em Portugal, bem sabemos, as medidas que têm resultado da iniciativa Governamental, têm sido mera operações panfletárias de reduzido impacto no tecido económico, em particular se retirarmos desse tecido os únicos grandes beneficiários: as instituições financeiras que têm conseguido substituir crédito de risco às empresas por financiamentos garantidos pelo Estado.
Seja como for, há que ter consciência que a resolução de tais questões mais imediatas não se pode sobrepor à necessidade de acompanhar este conjunto de medidas directamente orientadas para a economia real com a premente reconstrução do sistema financeiro internacional.
Afinal, continuarão a existir agentes económicos com necessidade de obter formas de financiamento da sua actividade, enquanto alavanca dos seus capitais próprios, e outros tantos que procurarão a melhor forma de aplicar as suas poupanças.
Em suma, continuará a existir espaço para um mercado que faça confluir essas posições antagónicas e que proporcione a identificação das soluções mais económicas/rentáveis, mais transparentes e seguras, da forma o mais célere e eficiente possível.
A dúvida prende-se com a identificação de quais serão os mercados, os produtos, as instituições e as regras que irão prevalecer nessa estrutura de um Sistema Financeiro renovado, reconstruído sobre os escombros da presente crise.
Haverá novamente, como sempre houve, particular espaço para a inovação financeira e uma cada vez maior necessidade de uma sólida supervisão.
Bem como haverá necessidade de ter investidores instruídos, profissionais do sector financeiro tecnicamente preparados e agentes fiscalizadores informados e conscientes das implicações do trabalho que devem desenvolver.
Por tudo isto, parecem-me particularmente oportunas as medias ontem anunciadas pela Comissão Europeia, especialmente dirigidas ao reforço da fiscalização dos mercados financeiros da União Europeia e que visam clarificar e facilitar a tomada de decisões dos reguladores europeus dos mercados de capitais, da banca e dos seguros.
No documento ontem remetido ao Conselho e ao Parlamento Europeu, a Comissão avança com duas linhas prioritárias de intervenção, tendentes à melhoria da cooperação e convergência entre os organismos de supervisão dos Estados-membros e ao reforço da estabilidade financeira.
Por um lado, definindo um enquadramento orgânico e operacional mais claro e ágil para os órgãos que supervisionam estas três actividades (mercado de capitais, banca e seguros), facilitando os processos de decisão.
Por outro lado, criando uma linha de financiamento especial para as actividades desenvolvidas por esses três organismos e por aqueles que contendem com o reporte de informação financeira e a auditoria na União Europeia e a nível internacional, de forma a que possam prosseguir os seus fins o mais célere e eficientemente possível.
Mas, como expressei, este será apenas mais um conjunto de tijolos do novo edifício financeiro que o mundo terá que construir.

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