O efeito Cadilhe
O Millennium BCP, a maior instituição financeira privada portuguesa, viveu em 2007 o seu annus horribilis, tal foi a sucessão de factos e ocorrências que perturbaram o normal funcionamento do Grupo.
No cômputo geral, o BCP sofreu uma pesada desvalorização do seu valor face às cotações atingidas em Bolsa nos meses de Junho e Julho, mudou duas vezes de Administração (com a segunda transição ainda em curso) e viu o seu nome na lama mediática pelos piores motivos.
Afinal, quem suporia há apenas um ano que o Banco acabaria 2007 com vários dos seus Administradores anteriores em risco de serem inibidos pelo Banco de Portugal, que sofreria denúncias de favorecimentos a clientes e familiares de Administradores e que seria acusado de alegadamente promover falsificações contabilísticas e outras práticas ilegais.
No meio de tudo isto, chamuscou-se Paulo Teixeira Pinto, que herdara a mais difícil das sucessões vai para dois anos, queimou-se Filipe Pinhal, que se assumia como o delfim desejado da anterior Administração, e foi literalmente incinerado Jardim Gonçalves, o principal pai e mentor do projecto, uma figura de referência no tecido financeiro e empresarial nacional das últimas três décadas.
Quem quer que assistisse aos tristes episódios do Verão Quente do Millennium e temesse pela estabilidade da gestão da instituição, jamais poderia supor que o inferno chegaria mesmo no período de Inverno, com uma sucessão de episódios alucinantes, em que praticamente ninguém ficou bem na fotografia.
O caso do BCP serve, aliás, para colocar sérias dúvidas quanto à capacidade reguladora de várias entidades, cuja iniciativa fiscalizadora parece ter chegado a reboque dos factos divulgados na comunicação social, após a total passividade que exibiram durante a ocorrência dos actos agora tidos por condenáveis.
Perante este cumular de situações, compreende-se que os accionistas do Banco, como os seus colaboradores e clientes ou como a generalidade dos agentes económicos e da opinião pública nacionais, clamassem por uma solução que garantisse a estabilidade da gestão e devolvesse o Banco ao rumo do crescimento que sempre traçou e que tanto contribuiu para o fortalecimento e afirmação internacional da economia portuguesa.
Neste contexto, qualquer dos públicos citados não se mostraria especialmente incomodado pelas estranhas condicionantes que envolveram o processo de apresentação da primeira lista concorrente ao Conselho de Administração Executivo do Banco, liderada pelo ex-Presidente da Caixa Geral de Depósitos Carlos Santos Ferreira.
Nem com a aparente falta de transparência (para não se invocar questões éticas) de uma tal transferência de recursos de topo da administração de um banco público para o seu maior concorrente na esfera privada, nem pela intervenção descabida do Governador do Banco de Portugal, nem pela ingerência tácita do Governo nos destinos de uma instituição privada, nem com o protagonismo ou a agenda particular de certos accionistas de referência.
Naquela conjuntura, o aparecimento de uma lista que era subscrita por um leque de accionistas que agrupava uma percentagem próxima dos 40% do capital do banco, que recebia o beneplácito de Constâncio e Teixeira dos Santos e que reunia profissionais de valia incontestável como Paulo Macedo ou José João Guilherme, trazendo o lastro de sucesso da equipa de Santos Ferreira na Caixa Geral de Depósitos, era naturalmente bem recebido.
Todavia, há momentos na vida das instituições em que não se pode tomar tudo como normal ou tolerável e em que cumpre a cada um dar o que estiver ao seu alcance para mudar o status quo.
No Millennium BCP, Miguel Cadilhe tem, quer e pode dar muito ao futuro desta instituição, sendo pois de saudar a iniciativa que tomou de avançar com a sua lista para o Conselho de Administração Executivo do Banco.
Como se pode ler no site que criou para este efeito (http://listacadilhe.paginas.sapo.pt/), a sua equipa conjuga “independência e valor”, visando preservar a independência do Banco e trazer valor para o Banco e os seus accionistas”.
Há quem veja agora nas duas listas em confronto uma guerra estritamente partidária. Há quem ache que apenas traduzem a disputa entre poderes paralelos da sociedade portuguesa.
Qualquer que seja o caso, é quase inédita uma situação em que duas listas disputem de forma aberta a liderança de uma sociedade com a dimensão do Millennium BCP.
À margem do ponto de partida de cada uma delas e dos apoios inicialmente associados aos seus subscritores, das intenções aparentemente declaradas de alteração de posição de certos accionistas importantes ou das fracturas que poderão decorrer de outras propostas que vão ser também sufragadas na Assembleia Geral de dia 15 de Janeiro, há um factor que assume uma importância decisiva neste tipo de processos.
Santos Ferreira e a sua equipa surgiram como solução de “aparente consenso” para resolver o problema do BCP, disponibilizando-se a cumprir esse papel. Miguel Cadilhe e os seus eleitos querem a Presidência do BCP e partiram para a contenda conscientes do desafio que tinham pela frente.
Querer é poder? Os accionistas do BCP decidem.
No cômputo geral, o BCP sofreu uma pesada desvalorização do seu valor face às cotações atingidas em Bolsa nos meses de Junho e Julho, mudou duas vezes de Administração (com a segunda transição ainda em curso) e viu o seu nome na lama mediática pelos piores motivos.
Afinal, quem suporia há apenas um ano que o Banco acabaria 2007 com vários dos seus Administradores anteriores em risco de serem inibidos pelo Banco de Portugal, que sofreria denúncias de favorecimentos a clientes e familiares de Administradores e que seria acusado de alegadamente promover falsificações contabilísticas e outras práticas ilegais.
No meio de tudo isto, chamuscou-se Paulo Teixeira Pinto, que herdara a mais difícil das sucessões vai para dois anos, queimou-se Filipe Pinhal, que se assumia como o delfim desejado da anterior Administração, e foi literalmente incinerado Jardim Gonçalves, o principal pai e mentor do projecto, uma figura de referência no tecido financeiro e empresarial nacional das últimas três décadas.
Quem quer que assistisse aos tristes episódios do Verão Quente do Millennium e temesse pela estabilidade da gestão da instituição, jamais poderia supor que o inferno chegaria mesmo no período de Inverno, com uma sucessão de episódios alucinantes, em que praticamente ninguém ficou bem na fotografia.
O caso do BCP serve, aliás, para colocar sérias dúvidas quanto à capacidade reguladora de várias entidades, cuja iniciativa fiscalizadora parece ter chegado a reboque dos factos divulgados na comunicação social, após a total passividade que exibiram durante a ocorrência dos actos agora tidos por condenáveis.
Perante este cumular de situações, compreende-se que os accionistas do Banco, como os seus colaboradores e clientes ou como a generalidade dos agentes económicos e da opinião pública nacionais, clamassem por uma solução que garantisse a estabilidade da gestão e devolvesse o Banco ao rumo do crescimento que sempre traçou e que tanto contribuiu para o fortalecimento e afirmação internacional da economia portuguesa.
Neste contexto, qualquer dos públicos citados não se mostraria especialmente incomodado pelas estranhas condicionantes que envolveram o processo de apresentação da primeira lista concorrente ao Conselho de Administração Executivo do Banco, liderada pelo ex-Presidente da Caixa Geral de Depósitos Carlos Santos Ferreira.
Nem com a aparente falta de transparência (para não se invocar questões éticas) de uma tal transferência de recursos de topo da administração de um banco público para o seu maior concorrente na esfera privada, nem pela intervenção descabida do Governador do Banco de Portugal, nem pela ingerência tácita do Governo nos destinos de uma instituição privada, nem com o protagonismo ou a agenda particular de certos accionistas de referência.
Naquela conjuntura, o aparecimento de uma lista que era subscrita por um leque de accionistas que agrupava uma percentagem próxima dos 40% do capital do banco, que recebia o beneplácito de Constâncio e Teixeira dos Santos e que reunia profissionais de valia incontestável como Paulo Macedo ou José João Guilherme, trazendo o lastro de sucesso da equipa de Santos Ferreira na Caixa Geral de Depósitos, era naturalmente bem recebido.
Todavia, há momentos na vida das instituições em que não se pode tomar tudo como normal ou tolerável e em que cumpre a cada um dar o que estiver ao seu alcance para mudar o status quo.
No Millennium BCP, Miguel Cadilhe tem, quer e pode dar muito ao futuro desta instituição, sendo pois de saudar a iniciativa que tomou de avançar com a sua lista para o Conselho de Administração Executivo do Banco.
Como se pode ler no site que criou para este efeito (http://listacadilhe.paginas.sapo.pt/), a sua equipa conjuga “independência e valor”, visando preservar a independência do Banco e trazer valor para o Banco e os seus accionistas”.
Há quem veja agora nas duas listas em confronto uma guerra estritamente partidária. Há quem ache que apenas traduzem a disputa entre poderes paralelos da sociedade portuguesa.
Qualquer que seja o caso, é quase inédita uma situação em que duas listas disputem de forma aberta a liderança de uma sociedade com a dimensão do Millennium BCP.
À margem do ponto de partida de cada uma delas e dos apoios inicialmente associados aos seus subscritores, das intenções aparentemente declaradas de alteração de posição de certos accionistas importantes ou das fracturas que poderão decorrer de outras propostas que vão ser também sufragadas na Assembleia Geral de dia 15 de Janeiro, há um factor que assume uma importância decisiva neste tipo de processos.
Santos Ferreira e a sua equipa surgiram como solução de “aparente consenso” para resolver o problema do BCP, disponibilizando-se a cumprir esse papel. Miguel Cadilhe e os seus eleitos querem a Presidência do BCP e partiram para a contenda conscientes do desafio que tinham pela frente.
Querer é poder? Os accionistas do BCP decidem.
1 comentário:
Afirmar q o Governo se ingeriu no BCP é o mesmo afirmar q o PSD se ingeriu na lista do Cadilhe. Até parece q o calculismo do LFM do PSD foi ao ponto de esperar q alguém próximo do seu espectro fosse para a CGD, para depois avançar para o BCP. Afinal quem é q se está a ingerir? Qual a razão para a lista do Cadilhe não ter aparecido mais cedo?
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