terça-feira, 22 de janeiro de 2008

O cluster das Nanotecnologias do Minho


Há quase meio século, o físico norte-americano Richard Feynman questionava no final de uma Palestra perante os seus pares da Sociedade Americana de Física: “-E se no futuro distante pudermos arranjar os átomos, um por um, da maneira que quisermos?”
A palestra tinha como tema “Há muito espaço lá no fundo” e lançava o debate em torno da manipulação molecular que, ao longo dos últimos 20 anos, tem sido um dos campos de vanguarda do progresso científico à escala mundial.
De facto, três décadas depois das polémicas dúvidas de Feynman, surgiu a nanotecnologia, a ciência que se debruça sobre um objecto de estudo cujas dimensões costumam ser medidas em nanómetros, um valor um milhão de vezes menor que um milímetro.
Com a especial contribuição dos físicos Gerd Binnig e Heinrich Rohrer que criaram o microscópio de efeito túnel (que permite “visualizar” os átomos), as nanotecnologias têm múltiplas aplicações nos mais diversos ramos do saber, com diversos resultados concretos em várias esferas da actividade industrial, da electrónica, à cosmética, à indústria têxtil e do vestuário, à construção civil, entre muitas outras.
O potencial de desenvolvimento destas ciências e, nomeadamente, as suas eventuais aplicações práticas têm ainda uma margem de evolução incomensurável, em áreas como a medicina, a computação, a aviação ou a protecção do meio ambiente, só para referir algumas das que têm sido mais referenciadas.
Daí que, ainda hoje, pareça irreal o mundo nanotecnológico perspectivado por Eric Drexler, em que qualquer aparelho ou substância poderia/poderá ser construído molécula por molécula.
Reconhecidamente, a utilização das nanotecnologias poderá comportar enormes benefícios para todas as áreas da sociedade, potenciando a criação de produtos mais duráveis, mais seguros, mais amigos do ambiente, mais económicos e mais ajustados a diferentes necessidades de consumidores e instituições, na indústria como nos serviços, em cada um dos aspectos da vida diária dos cidadãos.
Por todos estes motivos, a aposta nas nanotecnologias pode assumir-se como um factor de sustentação de um modelo de desenvolvimento económico a que se abrem francas perspectivas no horizonte do médio e longo prazo.
Em Braga, por estes dias, ainda se digerem os últimos ecos da XXIII Cimeira Ibérica e o marco incontestável em que se traduziu o lançamento da primeira pedra do futuro Laboratório Ibérico de Nanotecnologia (LIN).
Tendo sido uma decisão dos Governos dos dois países Ibéricos na Cimeira de Évora de 2005, o LIN quer afirmar-se como um espaço de investigação de excelência à escala internacional, cumprindo o desígnio europeu do investimento na Investigação e Desenvolvimento nas áreas de ponta e na captação e fixação de recursos altamente qualificados.
De forma mais abrangente, cumpre realçar que o LIN não é um acto isolado no esforço de cooperação dos dois países neste domínio e muito menos é um equipamento colocado nesta região por mera conveniência política.
Na primeira vertente, note-se a abertura de concursos para projectos envolvendo equipas de investigação dos dois países nas áreas da nanomedicina e da aplicação das nanotecnologias ao controlo ambiental e à segurança e qualidade alimentar; a celebração de um acordo para formação avançada em nanomedicina (com a criação de um programa de doutoramento conjunto entre três Universidades do Norte de Portugal e as três Universidades da Galiza); e o lançamento de concursos para a atribuição de bolsas de doutoramentos em laboratórios ibéricos e para o recrutamento pós-doutoral em laboratórios internacionais de excelência.
Na segunda vertente, recorde-se que o AVEPARK de Guimarães irá contar a breve trecho com dois novos Laboratórios desta área: o I3N (Instituto de Nanoestruturas, Nanomodelação e Nanofrabricação) e o INN (Instituto de Nanotecnologias), que se constituirão como nós nucleares da futura rede nacional de nanotecnologias, em estreito contacto com pólos universitários e de investigação de Guimarães, Braga, Lisboa e Aveiro; e com a instalação de incubadoras de empresas deste sector.
Por sua vez, em Famalicão, foi criado o CeNTI - Centro de Nanotecnologias e Materiais Técnicos Funcionais e Inteligentes, numa parceria entre o CITEVE, Universidade do Minho, Universidade do Porto, Universidade de Aveiro e CTIC.
Só nestas quatro entidades estamos a falar de algumas centenas de investigadores e mais de um milhar de quadros técnicos, em diferentes ramos da engenharia e em diversas áreas das ciências.
Como tronco comum da afirmação deste cluster regional, o extraordinário trabalho desenvolvido pela Universidade do Minho, seus académicos e investigadores de há vários anos a esta parte, que em boa hora os Governos Ibéricos souberam reconhecer e premiar.
Um mérito que não deve “adormecer” os seus responsáveis e que deve funcionar como estímulo para todos os agentes de desenvolvimento locais saberem aproveitar a enorme oportunidade que foi conferida a este território.

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