quinta-feira, 8 de julho de 2010

Manhã de Festival


A influência que as crianças podem ter num processo de compra de qualquer bem é uma matéria de discussão recorrente e que se torna tanto mais pertinente quanto a conjuntura recessiva aconselha a uma prática de consumo mais rigorosa.
Aliás, o recurso a estratégias promocionais que possam visar condicionar os adultos através de mensagens especialmente dirigidas às crianças tem vindo a ser alvo de diversas intervenções normativas e até de acordos de cariz deontológico das empresas do sector e dos próprios investidores no mercado publicitário.
Nalguns países, o combate ao “nagging” – a prática de pressão das crianças sobre os adultos com vista à aquisição de algo (a popular “birra”) – levou mesmo à total proibição de exibição de anúncios publicitários durante os espaços de programação infantis.
Se assim acontece em relação a qualquer bem ou serviço que não se dirige especificamente ao público infantil mas em que, por um qualquer motivo, este possa ter um interesse particular – imagine-se um detergente que oferece bolas de praia ou um jornal que traga como oferta um livro de banda desenhada ou passatempos -, a situação é ainda mais complexa quando as crianças são o “cliente final” do bem ou serviço em questão.
E, neste caso, deparamo-nos com um mercado em contínua expansão. Dos produtos alimentares às guloseimas, dos brinquedos tradicionais aos mais diversos equipamentos electrónicos, dos livros e revistas com os protagonistas da moda aos CDs musicais e aos vídeos e DVDs das séries favoritas, o leque parece ser inesgotável.
A título de registo pessoal de interesses, fica desde já a declaração que não tenho implícito a estas considerações nenhum juízo de valor depreciativo em relação a qualquer desses produtos ou, muito menos, dos seus potenciais compradores, sob pena de transformar estas linhas num mero acto de auto-contrição. Afinal, lá em casa as Bolachas Maria são do Ruca, as de chocolate da Dora e os biscoitos do Panda…
Seja como for, não é por acaso que a própria DECO, as Associações de Pais e organismos que promovem o combate à obesidade infantil têm assumido diversas intervenções públicas no repúdio à publicidade dirigida ao público mais jovem – que preenche uma parte significativa dos espaços de emissão televisiva a este dedicados – e que as principais marcas já se vincularam a condutas restritivas de certo tipo de práticas.
Não se pense, porém, que a questão se cinge à esfera alimentar, tanto mais que o potencial deste mercado tem vindo a ser percebido e aproveitado por um leque crescente de entidades, com ou sem objectivos estritamente lucrativos. E; refira-se, nalguns casos com méritos incontestáveis.
Atente-se, por exemplo, à esfera cultural. Para lá dos referidos livros e revistas induzirem hábitos de leitura, os filmes o gosto pelo cinema e os CDs/DVDs musicais atiçarem o apetite pela música ou pela dança, o sonho de qualquer programador de um espaço cultural é poder polvilhar a sua agenda com um número mínimo de eventos dirigidos ao público infantil. Haverá melhor forma de aumentar as estatísticas de visitantes e até os níveis de vendas de bilhetes?
Qual é o pai/mãe que consegue dizer que não a um daqueles eventos evocativos do Dia da Criança, aos espectáculos do período Natalício, ou à visita de uma estrela de televisão ou de um dos clássicos infantis adaptados para o teatro?
Há, porém, circunstâncias que parecem ultrapassar o domínio da racionalidade.
Depois de no ano passado não terem mostrado muito interesse no Festival Panda, as sucessivas repetições de momentos desse evento levaram as minhas filhas (as mais velhas, com 3 e 5 anos) a fazerem o tal apelo pungente e irrecusável para que pudessem marcar presença na edição deste ano.
Comprados os bilhetes atempadamente (antes que esgotassem como parece ter vindo a acontecer), por um valor que não se pode considerar acessível para qualquer bolso – quase 70 Euros para uma família de quatro pessoas -, eis que chegou o esperado dia do Festival.
Todavia, 30 minutos antes da hora do primeiro dos espectáculos do dia no Europarque, as saídas Norte e Sul da A1 para a Feira registavam dois quilómetros de fila inamovíveis.
Testada a alternativa da A29, novos dois quilómetros de fila aguardavam pelos milhares de crianças que exasperavam e desidratavam a um sol abrasador nas suas viaturas perante a impotência dos pais (e a aparente distracção da Brigada de Trânsito, cujas viaturas só começaram a deslocar-se para o local quando o pandemónio já estava instalado).
Quase uma hora volvida e pouco mais que um quilómetro percorrido, o poder paternal tomou uma decisão que, ainda que com alguma resistência, acabou por ser acatada pelas demais utentes da viatura.
De regresso, deu ainda para ver carros estacionados ao longo da berma da auto-estrada (a mais de 2 km da entrada do Europarque) e pais a saírem com as crianças e os carrinhos pela mão de encontro a um dia inesquecível…
No final, as miúdas não ficaram totalmente defraudadas: aproveitaram o que restava do Domingo para contactarem a fauna das praias da Foz, para mergulharem na selva de Serralves e, apesar de não terem estado com o Panda, sempre viram os pais a fazer figuras de ursos. Ou talvez não…

1 comentário:

Anónimo disse...

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