sexta-feira, 30 de julho de 2010

Era uma vez a BP?


Qualquer medida tomada hoje na área do Ambiente terá a sua repercussão a médio e longo prazo. Por isso, a aposta na Qualidade é para a BP uma exigência do presente.
Somos uma companhia preocupada em implementar soluções que minimizem os efeitos que uma actividade como a nossa possa causar.
A nossa conduta ética ultrapassa as questões financeiras. As práticas e políticas que implementamos e seguimos abrangem os nossos colaboradores, a comunidade envolvente e a segurança.
A lista de citações que se encontram nos Relatórios e Contas, no Relatório de Sustentabilidade e no próprio site institucional da empresa poderia continuar de forma quase infindável e, quase sem excepção, deixar-nos com a sensação de que mesmo a mais firme prática ou convicção de uma qualquer empresa pode ser posta em causa num volte-face do destino, seja ele provocado por culpas alheias, por erros próprios ou por mero azar…
Todavia, a análise do derrame verificado no Golfo do México numa plataforma petrolífera da BP vaio muito para lá da mera perda de “credibilidade” da empresa em relação à sua conduta neste âmbito específico, com efeitos tão devastadores sobre a própria quanto aqueles que teve, está a ter e terá sobre o meio ambiente no local, naquilo que o Presidente Obama classificou de “11 de Setembro ambiental” para os Estados Unidos.
Em termos financeiros, as contas não são fáceis de fazer mas parecem ter dois sentidos únicos: a soma dos custos e a quebra das vendas e lucros da empresa, em cifras que, segundo os dados agora divulgados, se cifraram em mais de 13 mil milhões de Euros de prejuízo só no segundo trimestre de 2010.
Para se atingir estes montantes, há que ter em conta, quer a quebra de produção e o petróleo derramado durante estes meses a um ritmos alucinante de vários milhares de barris por dia – segundo estimativas do Governo americano, entre 5,7 a 9,5 milhões de litros de petróleo por dia - , os esforços de contenção da fuga e, na parcela que será porventura mais importante, o custo das indemnizações que a empresa terá que suportar pelos impactos ambientais causados.
Aqui, o Presidente dos EUA assumiu desde a primeira hora um discurso contundente, pugnando pela compensação integral dos danos do derrame, incluindo o ressarcimento das quebras das várias actividades económicas dos Estados costeiros visados pela conduta “imprudente” da empresa.
Ainda do ponto de vista governamental, este acidente voltou a relançar o debate em torno da dependência do petróleo, da necessidade de investir na produção de energias limpas e originou até a decisão de suspender a autorização para exploração de petróleo em águas profundas no país, com a natural contestação do lobby das empresas petrolíferas.
Apesar de a empresa admitir que o pior terá passado no trimestre findo, tanto mais que foi já anunciada a contenção da fuga em causa na plataforma Deepwater Horizon, que a BP explorava a 1,5 mil metros de profundidade, não é ainda fácil antecipar as repercussões da catástrofe de 20 de Abril sobre a sua realidade futura.
Desde logo, porque o volume das indemnizações, nos bem mais céleres e eficazes tribunais norte-americanos, devem atingir proporções muito superiores às já gravosas previsões iniciais de 15 mil milhões de Euros.
Em segundo lugar, porque é claro que este acidente está a ter repercussões de vária ordem na vida económica e organizativa da empresa, com destaque para a venda de activos com vista a financiar estas operações (em montantes que poderão ultrapassar os 23 mil milhões de Euros) e à própria substituição do Director-Executivo da Empresa, Tony Hayward que assumiu um comportamento errático em todo este processo.
Note-se, até, que face às implicações deste processo, a escolha da Administração para o substituto de Hayward recaiu sobre um norte-americano, Bob Dudley, natural da zona afectada, e com outra capacidade de lidar com a contestação dos seus compatriotas (incluindo o próprio Presidente Obama).
Já Hayward, o CEO cessante da empresa, receberá uma indemnização de 1,2 milhões de Euros, mantendo todas as demais regalias acumuladas, num sinal claro de que, tal como a Federação Portuguesa de Futebol, também a BP gostaria de poder invocar a “razão atendível” para concretizar a substituição deste responsável…

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