Suplementos de Economia
Como em relação a qualquer paciente de uma qualquer patologia, a introdução de medidas terapêuticas adequadas para as maleitas económicas requer a conjugação de um mesmo leque de factores: o diagnóstico atempado da doença, o domínio técnico do clínico e a perseverança e disciplina do doente.
A nível nacional, a situação complica-se um pouco mais, uma vez que cabe ao legítimo representante e gestor da “saúde” económica do doente (o País) o papel de prescritor e administrador da posologia adequada (enquanto Governo), numa versão atípica de auto-medicação.
Mais a mais, por muito que as crises económicas estejam devidamente tipificadas, nos seus sintomas e manifestações expressas, sobre as mesmas não há a capacidade de confrontar a eficácia de tratamentos alternativos em contexto laboratorial o que conduz, não raras vezes, à experimentação contínua de quem não possui o domínio claro da matéria em apreço.
Em Portugal, neste ocaso do ano de 2008, vive-se uma destas estranhas situações, mais conformes ao mundo da medicina que à desejável pujança das actividades económicas e empresariais.
Ao longo dos últimos anos mas, muito particularmente, ao longo dos últimos meses, o doente evidenciava já sintomas claros de que carecia de uma intervenção, parte por contaminação externa mas muito por via das más práticas e dos hábitos de uma vida pouco saudável. Todavia, o seu clínico desvalorizava os sinais e deixava agravar o estado do paciente.
Pior, a cada sinal de melhoria, os seus assistentes exultavam publicamente: “-Está curado!”, como que se tais palavras mágicas pudessem obstar à propagação do vírus.
Falhando no primeiro dos requisitos antes enunciados, a actuação do médico chega tarde, numa altura em que parte substancial da comunidade envolvente já se encontra infectada e em que os riscos de contágio impedem uma recuperação rápida das patologias próprias.
Quanto ao segundo requisito para a cura, há muito que fora posto de parte. O País cumpriu penosamente mais de uma década de práticas desaconselháveis (apenas brevemente interrompida), ilustradas por políticas económicas erráticas, desenquadradas da realidade e com recurso sistemático à promessa fácil e á ilusão. Sempre com a consequência da degradação do estado do paciente, com reflexos pontuais na dor de cabeça típica da ressaca das festividades excessivas, e com um crescente acumular de dores na sua carteira.
Quem olhara para estes quatro anos como o tempo de fortalecer os músculos e corrigir as rugas, confronta-se agora com a dura realidade de ter que actuar de forma célere e eficaz para salvar os órgãos vitais.
O lado esquerdo do corpo está praticamente paralisado e votado ao abandono. Da parte de cima do tronco seguem-se os alertas de que o todo está em risco de colapso. As bolsas de energia são cada vez mais intermitentes e concentradas no espaço circundante do umbigo da Nação.
Há bem pouco tempo, o paciente continuava a persistir no seu estado de negação. “Para o ano é que vai ser!”, vibrava, com a complacência e incúria do médico assistente, como que saltando as linhas do Relatório das Análises Clínicas realizadas anualmente, em busca de sinais positivos para avaliação do seu estado de saúde.
Os pareceres dos clínicos externos eram, porém, contundentes: avizinhava-se o pior, novamente por contágio da pandemia global, por agravamento das crises cíclicas que antecedem cada acto eleitoral e por inacção para com as várias infecções que hoje corroem o estado de saúde do paciente.
De repente, a luz. Um encontro com outros doentes infectados e a súbita recomendação da visita ao Dr. Keynes, especialista novamente em voga na revitalização económica por via das políticas orçamentais expansionistas, a cargo do aumento do investimento público e dos estímulos fiscais.
Uma rápida deslocação ao estrangeiro para assegurar o abastecimento da medicação na dose necessária e eis que se anuncia o tratamento, com a prescrição do consumo do maravilhoso e seguramente eficaz “pacote contra a crise”.
O País viu, ouviu mas não sabe se há-de acreditar. Há que despejar o conteúdo da embalagem num copo com água, juntar açúcar a gosto e esperar que faça efeito.
Se, como se prevê, as melhorias forem residuais e meros paliativos sem efeitos sensíveis, resta a esperança de que ainda valha a pena mudar de médico… se o País resistir até ao último trimestre de 2009.
A nível nacional, a situação complica-se um pouco mais, uma vez que cabe ao legítimo representante e gestor da “saúde” económica do doente (o País) o papel de prescritor e administrador da posologia adequada (enquanto Governo), numa versão atípica de auto-medicação.
Mais a mais, por muito que as crises económicas estejam devidamente tipificadas, nos seus sintomas e manifestações expressas, sobre as mesmas não há a capacidade de confrontar a eficácia de tratamentos alternativos em contexto laboratorial o que conduz, não raras vezes, à experimentação contínua de quem não possui o domínio claro da matéria em apreço.
Em Portugal, neste ocaso do ano de 2008, vive-se uma destas estranhas situações, mais conformes ao mundo da medicina que à desejável pujança das actividades económicas e empresariais.
Ao longo dos últimos anos mas, muito particularmente, ao longo dos últimos meses, o doente evidenciava já sintomas claros de que carecia de uma intervenção, parte por contaminação externa mas muito por via das más práticas e dos hábitos de uma vida pouco saudável. Todavia, o seu clínico desvalorizava os sinais e deixava agravar o estado do paciente.
Pior, a cada sinal de melhoria, os seus assistentes exultavam publicamente: “-Está curado!”, como que se tais palavras mágicas pudessem obstar à propagação do vírus.
Falhando no primeiro dos requisitos antes enunciados, a actuação do médico chega tarde, numa altura em que parte substancial da comunidade envolvente já se encontra infectada e em que os riscos de contágio impedem uma recuperação rápida das patologias próprias.
Quanto ao segundo requisito para a cura, há muito que fora posto de parte. O País cumpriu penosamente mais de uma década de práticas desaconselháveis (apenas brevemente interrompida), ilustradas por políticas económicas erráticas, desenquadradas da realidade e com recurso sistemático à promessa fácil e á ilusão. Sempre com a consequência da degradação do estado do paciente, com reflexos pontuais na dor de cabeça típica da ressaca das festividades excessivas, e com um crescente acumular de dores na sua carteira.
Quem olhara para estes quatro anos como o tempo de fortalecer os músculos e corrigir as rugas, confronta-se agora com a dura realidade de ter que actuar de forma célere e eficaz para salvar os órgãos vitais.
O lado esquerdo do corpo está praticamente paralisado e votado ao abandono. Da parte de cima do tronco seguem-se os alertas de que o todo está em risco de colapso. As bolsas de energia são cada vez mais intermitentes e concentradas no espaço circundante do umbigo da Nação.
Há bem pouco tempo, o paciente continuava a persistir no seu estado de negação. “Para o ano é que vai ser!”, vibrava, com a complacência e incúria do médico assistente, como que saltando as linhas do Relatório das Análises Clínicas realizadas anualmente, em busca de sinais positivos para avaliação do seu estado de saúde.
Os pareceres dos clínicos externos eram, porém, contundentes: avizinhava-se o pior, novamente por contágio da pandemia global, por agravamento das crises cíclicas que antecedem cada acto eleitoral e por inacção para com as várias infecções que hoje corroem o estado de saúde do paciente.
De repente, a luz. Um encontro com outros doentes infectados e a súbita recomendação da visita ao Dr. Keynes, especialista novamente em voga na revitalização económica por via das políticas orçamentais expansionistas, a cargo do aumento do investimento público e dos estímulos fiscais.
Uma rápida deslocação ao estrangeiro para assegurar o abastecimento da medicação na dose necessária e eis que se anuncia o tratamento, com a prescrição do consumo do maravilhoso e seguramente eficaz “pacote contra a crise”.
O País viu, ouviu mas não sabe se há-de acreditar. Há que despejar o conteúdo da embalagem num copo com água, juntar açúcar a gosto e esperar que faça efeito.
Se, como se prevê, as melhorias forem residuais e meros paliativos sem efeitos sensíveis, resta a esperança de que ainda valha a pena mudar de médico… se o País resistir até ao último trimestre de 2009.
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