O valor de um Curso
Por entre as pinturas de guerra, a alegria incontida do obstáculo ultrapassado e a expectativa temerosa da nova etapa que se avizinha são mais de 42 mil os alunos já colocados na primeira fase do concurso de acesso ao ensino superior público, a que se juntarão uns quantos mais que serão colocados nas próximas fases e vários milhares que optaram ou irão enveredar pelo ensino superior privado.
Do lado de lá do arco-íris, são também mais de 50 mil os licenciados que se encontram no desemprego, numa realidade chocante que tem vindo a crescer de ano para ano.
Tudo somado, o Governo cumpre as suas metas programáticas e os objectivos da Estratégia de Lisboa, elevando os níveis estatísticos de qualificação dos seus cidadãos. Por seu lado, as Universidades e Instituto Superiores suspiram de alívio com a ilusão temporária das consequências da transformação demográfica e das políticas de estrangulamento financeiro a que o próprio Governo vem dando corpo.
De facto, se atentarmos aos dados disponibilizados pelo Ministério da Ciência e do Ensino Superior para este ano lectivo, verificamos que não apenas aumentou o número de candidatos, como aumentou o número de vagas e, por estas duas vias, o número total de colocações.
No lado oposto da balança parecem estar afinal os próprios alunos do ensino superior, mergulhados na incerteza quanto à compensação que receberão pelo esforço despendido e pelo investimento financeiro realizado (quanto mais não seja pelas suas famílias) quando cruzarem pela última vez as portas da sua Universidade.
Como que em resposta a tais apreensões, foi recentemente divulgado um estudo da OCDE que sustenta que Portugal é, de entre 25 dos Estados-membros da União Europeia, um dos países em que mais compensa concluir um curso superior.
De acordo com o Relatório “Education at a Glance 2007” desta organização, em Portugal um trabalhador licenciado ganha em média mais oitenta por cento do que alguém que só tenha concluído o ensino secundário. Se este desequilíbrio é visível em todos os países analisados, a verdade é que só na Hungria e na Republica Checa o desnível é mais acentuado do que no nosso País.
Ainda segundo o Relatório da OCDE, Portugal encontra-se também no topo de um outro indicador, uma vez que de entre as pessoas que auferem remunerações superiores ao dobro da média nacional mais de 60% são licenciadas.
A conjugação dos dados estatísticos referidos coloca um verdadeiro paradoxo aos alunos universitários na incerteza da resposta correcta ao seguinte dilema: ou concluem as suas licenciaturas, encontram emprego e beneficiam das vantagens evidenciadas pelo Relatório da OCDE ou, no extremo oposto, podem vir a engrossar o caudal de mão-de-obra extremamente qualificada que o nosso País desaproveita.
A resposta a esta questão passa obviamente por reflexões de vária ordem. Desde logo, porque melhores seriam as perspectivas para os jovens licenciados se o Governo, os organismos públicos ou as Autarquias locais desenvolvem-se políticas pró-activas de apoio ao crescimento económico e à criação de empresas e empregos.
Em segundo lugar, melhores seriam também as perspectivas se as empresas e sobretudo o sector das Pequenas e Médias Empresas reconhecesse o contributo destes jovens quadros e desse outro seguimento a iniciativas meritórias como as políticas de apoio aos Estágios Profissionais já no terreno.
Finalmente, e o que é um tema esgotado na discussão mas vazio na acção, se houvesse um melhor ajustamento entre a oferta formativa e as necessidades reais do tecido produtivo e dos diferentes campos profissionais.
Neste âmbito, não se percebe a teimosia do Governo em recusar promover a divulgação anual das saídas profissionais dos licenciados dos diferentes cursos e a falta de coragem para actuar em conformidade em relação a alguns dos cursos que são hoje disponibilizados aos novos alunos.
Essa iniciativa, aliás, poderia até ser articulada com o projecto recentemente aprovado da disponibilização de empréstimos bancários com garantia mútua para os alunos do ensino superior financiarem os seus estudos.
Na prática, viabilizando o estabelecimento de um sistema de rating / notação do risco de crédito dos empréstimos concedidos em que as taxas de juro praticadas seriam necessariamente superiores para as formações com menores saídas profissionais e menores para os cursos com maior facilidade de colocação de licenciados.
À luz de tais dados validados pelo “mercado financeiro”, cada aluno poderia efectuar as suas opções em consciência, livre de seguir os seus sonhos ou de manter os pés bem assentes na terra, sem nunca ser vítima do canto da sereia de algumas instituições ou do afã de progresso estatístico de quem vai conduzindo os destinos da Nação.
Do lado de lá do arco-íris, são também mais de 50 mil os licenciados que se encontram no desemprego, numa realidade chocante que tem vindo a crescer de ano para ano.
Tudo somado, o Governo cumpre as suas metas programáticas e os objectivos da Estratégia de Lisboa, elevando os níveis estatísticos de qualificação dos seus cidadãos. Por seu lado, as Universidades e Instituto Superiores suspiram de alívio com a ilusão temporária das consequências da transformação demográfica e das políticas de estrangulamento financeiro a que o próprio Governo vem dando corpo.
De facto, se atentarmos aos dados disponibilizados pelo Ministério da Ciência e do Ensino Superior para este ano lectivo, verificamos que não apenas aumentou o número de candidatos, como aumentou o número de vagas e, por estas duas vias, o número total de colocações.
No lado oposto da balança parecem estar afinal os próprios alunos do ensino superior, mergulhados na incerteza quanto à compensação que receberão pelo esforço despendido e pelo investimento financeiro realizado (quanto mais não seja pelas suas famílias) quando cruzarem pela última vez as portas da sua Universidade.
Como que em resposta a tais apreensões, foi recentemente divulgado um estudo da OCDE que sustenta que Portugal é, de entre 25 dos Estados-membros da União Europeia, um dos países em que mais compensa concluir um curso superior.
De acordo com o Relatório “Education at a Glance 2007” desta organização, em Portugal um trabalhador licenciado ganha em média mais oitenta por cento do que alguém que só tenha concluído o ensino secundário. Se este desequilíbrio é visível em todos os países analisados, a verdade é que só na Hungria e na Republica Checa o desnível é mais acentuado do que no nosso País.
Ainda segundo o Relatório da OCDE, Portugal encontra-se também no topo de um outro indicador, uma vez que de entre as pessoas que auferem remunerações superiores ao dobro da média nacional mais de 60% são licenciadas.
A conjugação dos dados estatísticos referidos coloca um verdadeiro paradoxo aos alunos universitários na incerteza da resposta correcta ao seguinte dilema: ou concluem as suas licenciaturas, encontram emprego e beneficiam das vantagens evidenciadas pelo Relatório da OCDE ou, no extremo oposto, podem vir a engrossar o caudal de mão-de-obra extremamente qualificada que o nosso País desaproveita.
A resposta a esta questão passa obviamente por reflexões de vária ordem. Desde logo, porque melhores seriam as perspectivas para os jovens licenciados se o Governo, os organismos públicos ou as Autarquias locais desenvolvem-se políticas pró-activas de apoio ao crescimento económico e à criação de empresas e empregos.
Em segundo lugar, melhores seriam também as perspectivas se as empresas e sobretudo o sector das Pequenas e Médias Empresas reconhecesse o contributo destes jovens quadros e desse outro seguimento a iniciativas meritórias como as políticas de apoio aos Estágios Profissionais já no terreno.
Finalmente, e o que é um tema esgotado na discussão mas vazio na acção, se houvesse um melhor ajustamento entre a oferta formativa e as necessidades reais do tecido produtivo e dos diferentes campos profissionais.
Neste âmbito, não se percebe a teimosia do Governo em recusar promover a divulgação anual das saídas profissionais dos licenciados dos diferentes cursos e a falta de coragem para actuar em conformidade em relação a alguns dos cursos que são hoje disponibilizados aos novos alunos.
Essa iniciativa, aliás, poderia até ser articulada com o projecto recentemente aprovado da disponibilização de empréstimos bancários com garantia mútua para os alunos do ensino superior financiarem os seus estudos.
Na prática, viabilizando o estabelecimento de um sistema de rating / notação do risco de crédito dos empréstimos concedidos em que as taxas de juro praticadas seriam necessariamente superiores para as formações com menores saídas profissionais e menores para os cursos com maior facilidade de colocação de licenciados.
À luz de tais dados validados pelo “mercado financeiro”, cada aluno poderia efectuar as suas opções em consciência, livre de seguir os seus sonhos ou de manter os pés bem assentes na terra, sem nunca ser vítima do canto da sereia de algumas instituições ou do afã de progresso estatístico de quem vai conduzindo os destinos da Nação.
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