O bug do Millennium
“(…) é nosso dever meditar no futuro. Não o que espera por nós em sonhos ou pesadelos. Mas aquele por que esperamos nós. Porque acreditamos que é nosso dever concebê-lo em torno da esperança. O destino não existe. Que viva a vontade de em liberdade cumprir no presente o dever de querer um futuro. (…)”
Paulo Teixeira Pinto, in “Um dever chamado futuro”
Quando, em Março de 2005, os accionistas do BCP - Banco Comercial Português procederam à designação do então Secretário-Geral do Grupo, Dr. Paulo Teixeira Pinto, para substituir o histórico Eng. Jardim Gonçalves – que liderava o Banco desde a sua fundação, há mais de 20 anos –, muitos terão admitido que lhe estava confiada uma missão impossível.
Mais do que qualquer dúvida sobre as suas capacidades para o exercício de tais funções ou sobre a possibilidade de afirmar a sua liderança de forma incontestável, nomeadamente face aos “delfins” do seu antecessor, tinha que se ter em conta os traços marcantes do legado de Jardim Gonçalves, quer no que respeita ao perfil público que construíra, quer em relação aos resultados concretos da instituição que guindara à liderança do sector financeiro nacional.
Na primeira vertente, a par com a imagem sóbria e de austeridade que Jardim Gonçalves sempre cultivara, atreita a conquistar a reverência e respeito dos seus adversários e do cidadão anónimo, a liderança cessante fora capaz de posicionar a instituição como um Banco ambicioso, inovador, dinâmico e com uma superior qualidade de serviço face à concorrência.
Nos mais diversos domínios, o BCP de Jardim Gonçalves assumira-se como um projecto pioneiro, fosse na diversificação da actividade do Grupo para os vários ramos da intermediação financeira, na abordagem estratificada aos seus clientes ou no recurso aos novos canais de comunicação disponíveis (a Banca Telefónica, o Homebanking, etc.).
As duas décadas da gestão de Jardim Gonçalves traduziram-se num cumular de conquistas, de espaço (pelo início do processo de internacionalização), de dimensão (pelas múltiplas aquisições consumadas, em que se incluiu o BPA – Banco Português do Atlântico como troféu mais apetecido) e de credibilidade (bem visível na presença das acções do Banco nos principais mercados de capitais internacionais e pelo seu peso preponderante no Índice PSI-20, o mais representativo da Bolsa Portuguesa).
Por mais que a escolha de Paulo Teixeira Pinto tenha então colhido de surpresa a generalidade dos analistas e, seguramente, a esmagadora maioria dos próprios Administradores, Colaboradores e Accionistas do Banco, o agora líder cessante do Millennium iniciou o seu mandato a todo o gás, impondo um novo modelo de organização que revolucionou o governo do Grupo, estabelecendo metas ambiciosas e exigindo a subscrição de contratos de desempenho indexados aos objectivos traçados aos principais gestores.
Para muitos, a era Teixeira Pinto ficará marcada pela primeira grande derrota do Banco, traduzida no fracasso da OPA ao BPI – Banco Português de Investimento, em que várias vezes perpassou a ideia de uma falta de sustentação técnica e estratégica na condução do processo que poucos julgariam possível no antigo BCP. Aliás, mesmo o insucesso da primeira OPA ao Atlântico fora aceitável face a diversas condicionantes e assemelhara-se à crónica de um sucesso adiado, como se veio a materializar.
Para outros, este período ficará registado pelo seu triste ocaso, patente na impensável troca de acusações entre as diferentes “facções” de accionistas e no travo a uma despropositada ânsia de perpetuação do poder por parte do bloco de Jardim Gonçalves, que até acaba por sair parcialmente “vencedor” da compita.
Para quase todos, este cumular de ocorrências terá traduzido uma espécie de “bater no fundo” da instituição, disfarçado pela sua performance bolsista, mas com danos ainda por medir na sua imagem pública e no seu desempenho económico e financeiro, coroado com a triste cena do “bug” no sistema informático que originou a suspensão e adiamento da própria Assembleia Geral.
Por entre os danos da contenda, há já quem antecipe o prolongamento deste período difícil, da incerteza na governação e de eventual incapacidade de reacção que pode redundar na sujeição a uma OPA hostil por parte de um dos muitos tubarões que navegam no oceano financeiro global.
Caberá a Filipe Pinhal, o novel Presidente do Conselho de Administração, reencontrar o trilho do sucesso e afastar do caminho os muitos escolhos que seguramente irá encontrar. Para isso, porém, talvez valesse a pena contar com um consensual apoio dos accionistas da instituição, de forma a que o Grupo possa voltar a ser notícia mais pelo seu desempenho nos negócios que pelas suas guerras nos bastidores.
Afinal, foram eles os primeiros a seguir o novo anúncio do banco e a virar o BCP… de pernas para o ar!...
Paulo Teixeira Pinto, in “Um dever chamado futuro”
Quando, em Março de 2005, os accionistas do BCP - Banco Comercial Português procederam à designação do então Secretário-Geral do Grupo, Dr. Paulo Teixeira Pinto, para substituir o histórico Eng. Jardim Gonçalves – que liderava o Banco desde a sua fundação, há mais de 20 anos –, muitos terão admitido que lhe estava confiada uma missão impossível.
Mais do que qualquer dúvida sobre as suas capacidades para o exercício de tais funções ou sobre a possibilidade de afirmar a sua liderança de forma incontestável, nomeadamente face aos “delfins” do seu antecessor, tinha que se ter em conta os traços marcantes do legado de Jardim Gonçalves, quer no que respeita ao perfil público que construíra, quer em relação aos resultados concretos da instituição que guindara à liderança do sector financeiro nacional.
Na primeira vertente, a par com a imagem sóbria e de austeridade que Jardim Gonçalves sempre cultivara, atreita a conquistar a reverência e respeito dos seus adversários e do cidadão anónimo, a liderança cessante fora capaz de posicionar a instituição como um Banco ambicioso, inovador, dinâmico e com uma superior qualidade de serviço face à concorrência.
Nos mais diversos domínios, o BCP de Jardim Gonçalves assumira-se como um projecto pioneiro, fosse na diversificação da actividade do Grupo para os vários ramos da intermediação financeira, na abordagem estratificada aos seus clientes ou no recurso aos novos canais de comunicação disponíveis (a Banca Telefónica, o Homebanking, etc.).
As duas décadas da gestão de Jardim Gonçalves traduziram-se num cumular de conquistas, de espaço (pelo início do processo de internacionalização), de dimensão (pelas múltiplas aquisições consumadas, em que se incluiu o BPA – Banco Português do Atlântico como troféu mais apetecido) e de credibilidade (bem visível na presença das acções do Banco nos principais mercados de capitais internacionais e pelo seu peso preponderante no Índice PSI-20, o mais representativo da Bolsa Portuguesa).
Por mais que a escolha de Paulo Teixeira Pinto tenha então colhido de surpresa a generalidade dos analistas e, seguramente, a esmagadora maioria dos próprios Administradores, Colaboradores e Accionistas do Banco, o agora líder cessante do Millennium iniciou o seu mandato a todo o gás, impondo um novo modelo de organização que revolucionou o governo do Grupo, estabelecendo metas ambiciosas e exigindo a subscrição de contratos de desempenho indexados aos objectivos traçados aos principais gestores.
Para muitos, a era Teixeira Pinto ficará marcada pela primeira grande derrota do Banco, traduzida no fracasso da OPA ao BPI – Banco Português de Investimento, em que várias vezes perpassou a ideia de uma falta de sustentação técnica e estratégica na condução do processo que poucos julgariam possível no antigo BCP. Aliás, mesmo o insucesso da primeira OPA ao Atlântico fora aceitável face a diversas condicionantes e assemelhara-se à crónica de um sucesso adiado, como se veio a materializar.
Para outros, este período ficará registado pelo seu triste ocaso, patente na impensável troca de acusações entre as diferentes “facções” de accionistas e no travo a uma despropositada ânsia de perpetuação do poder por parte do bloco de Jardim Gonçalves, que até acaba por sair parcialmente “vencedor” da compita.
Para quase todos, este cumular de ocorrências terá traduzido uma espécie de “bater no fundo” da instituição, disfarçado pela sua performance bolsista, mas com danos ainda por medir na sua imagem pública e no seu desempenho económico e financeiro, coroado com a triste cena do “bug” no sistema informático que originou a suspensão e adiamento da própria Assembleia Geral.
Por entre os danos da contenda, há já quem antecipe o prolongamento deste período difícil, da incerteza na governação e de eventual incapacidade de reacção que pode redundar na sujeição a uma OPA hostil por parte de um dos muitos tubarões que navegam no oceano financeiro global.
Caberá a Filipe Pinhal, o novel Presidente do Conselho de Administração, reencontrar o trilho do sucesso e afastar do caminho os muitos escolhos que seguramente irá encontrar. Para isso, porém, talvez valesse a pena contar com um consensual apoio dos accionistas da instituição, de forma a que o Grupo possa voltar a ser notícia mais pelo seu desempenho nos negócios que pelas suas guerras nos bastidores.
Afinal, foram eles os primeiros a seguir o novo anúncio do banco e a virar o BCP… de pernas para o ar!...
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