As bolhas
Quando, como hoje acontece, os preços de determinados activos registam crescimentos significativos e continuados no tempo (ainda que em períodos relativamente curtos), é frequente ouvirmos soar as primeiras campainhas de alerta para a possibilidade de estarmos perante bolhas especulativas.
Desta feita, os alegados sintomas são visíveis em várias frentes, desde mercados de matérias-primas como o cobre, o níquel ou o chumbo, ao sector imobiliário dos Estados Unidos e de vários países europeus, até diversos mercados bolsistas internacionais, entre os quais o português.
Nestas circunstâncias, a questão que sempre se coloca é a de saber se tais dinâmicas positivas são fiáveis e resultam de um incremento efectivo dos valores intrínsecos dos activos – à luz dos factores estruturantes que podem condicionar a sua evolução – ou se decorrem de meras circunstâncias momentâneas, normalmente associadas a comportamentos irracionais dos agentes económicos.
Essa possibilidade questiona drasticamente alguns dos pilares da teoria económica – normalmente aplicáveis a vários tipo de mercados – como sejam os pressupostos de que os indivíduos seguem comportamentos racionais, maximizadores do valor do seu património e com um certo grau de aversão ao risco; e de que os mercados incorporam a todo o tempo toda a informação disponível que seja relevante para a fixação do preço dos activos, pelo que se encontram em estado de permanente equilíbrio (o princípio da eficiência do mercado).
Se assim não acontecer, os movimentos de preços reflectirão outros factores que não os fundamentos da valorização dos activos, assentes em comportamentos irracionais dos agentes, que dão origem a bolhas especulativas.
A designação surge aqui como tentativa de ilustração figurativa do fenómeno, uma vez que a consequência lógica neste contexto é o esvaziamento abrupto ou paulatino da bolha, traduzido num crash ou numa descida acelerada dos preços até ao valor real/justo dos activos.
Apesar de existirem registos da ocorrência de bolhas especulativas de há vários séculos a esta parte (a primeira das quais no Mercado de Tulipas da Holanda do século XVII), a análise destes fenómenos e a fundamentação destes padrões de conduta nos mercados apenas começaram a ser estudadas há relativamente pouco tempo, graças ao trabalho pioneiro de autores como Daniel Kahneman e Amos Tverski, ou aos desenvolvimentos atribuídos a Richard Thaler ou Robert Shiller.
Para tal muito contribuiu a evidência histórica de que a frequência de ocorrência de novas bolhas se intensificou ao longo dos últimos anos, desde o rebentamento da bolha da economia da japonesa no início da década de 90, às crises do Sudeste Asiático em 1997 e da Rússia em 1998, até ao crash global do ano 2000, muito ligado ao sector da Nova Economia e das empresas tecnológicas.
Antes, para lá de outras ocorrências de relevo no panorama internacional, sobressaiu o crash do Outubro negro de 1929, que dizimou a economia norte-americana e mundial por mais de uma década.
Em todas estas circunstâncias, registou-se um mesmo padrão de comportamento: os agentes económicos tenderam a abandonar a sua postura racional, a “entusiasmarem-se” com a evolução favorável dos mercados, a “descuidarem” os seus níveis de exposição ao risco e a assumirem posições alavancadas face às suas reais capacidades económicas.
Entre a convicção de muitos cidadãos comuns da Holanda do século XVII de que os bolbos de tulipas poderiam atingir valores muitas vezes superiores ao seu valor real e o investimento desproporcionado dos accionistas do mercado bolsista face aos fundamentos de avaliação das empresas negociadas está uma mesma pressuposição de que o mercado supera a razão e de que os ganhos são sustentáveis pela mera adesão maciça dos investidores às tendências dominantes.
Mas, à luz destes considerandos, será que estamos mesmo perante uma propagação de bolhas especulativas nos diferentes mercados de activos, reais e financeiros?
À primeira vista, qualquer das tendências de alta de preços podem ser justificadas: o custo das matérias-primas tem subido face ao aumento da procura de países com ritmos de crescimento avassaladores (como a China e a Índia); o sector imobiliário responde ao acréscimo de procura que resultou de uma maior facilidade de acesso ao crédito para a compra de habitação e a um certo recurso a este sector como reserva de valor; até as bolsas estarão a acompanhar o desempenho positivo das principais economias ocidentais (aqui, com a excepção do caso português, em que a Bolsa regista ganhos muito acima da performance económica do País – também porque o próprio tecido empresarial nacional aí não está devidamente representado).
Como sempre, a grande questão é saber se estes e os outros factores que poderiam justificar o actual sentido de variação dos preços, também justificam a amplitude do seu crescimento e a velocidade a que o mesmo se tem processado.
Num juízo que só o futuro costuma corroborar ou desmentir, a negação das possibilidades anteriores levar-nos-ia a concluir pela ocorrência das supostas bolhas especulativas. Será?
Desta feita, os alegados sintomas são visíveis em várias frentes, desde mercados de matérias-primas como o cobre, o níquel ou o chumbo, ao sector imobiliário dos Estados Unidos e de vários países europeus, até diversos mercados bolsistas internacionais, entre os quais o português.
Nestas circunstâncias, a questão que sempre se coloca é a de saber se tais dinâmicas positivas são fiáveis e resultam de um incremento efectivo dos valores intrínsecos dos activos – à luz dos factores estruturantes que podem condicionar a sua evolução – ou se decorrem de meras circunstâncias momentâneas, normalmente associadas a comportamentos irracionais dos agentes económicos.
Essa possibilidade questiona drasticamente alguns dos pilares da teoria económica – normalmente aplicáveis a vários tipo de mercados – como sejam os pressupostos de que os indivíduos seguem comportamentos racionais, maximizadores do valor do seu património e com um certo grau de aversão ao risco; e de que os mercados incorporam a todo o tempo toda a informação disponível que seja relevante para a fixação do preço dos activos, pelo que se encontram em estado de permanente equilíbrio (o princípio da eficiência do mercado).
Se assim não acontecer, os movimentos de preços reflectirão outros factores que não os fundamentos da valorização dos activos, assentes em comportamentos irracionais dos agentes, que dão origem a bolhas especulativas.
A designação surge aqui como tentativa de ilustração figurativa do fenómeno, uma vez que a consequência lógica neste contexto é o esvaziamento abrupto ou paulatino da bolha, traduzido num crash ou numa descida acelerada dos preços até ao valor real/justo dos activos.
Apesar de existirem registos da ocorrência de bolhas especulativas de há vários séculos a esta parte (a primeira das quais no Mercado de Tulipas da Holanda do século XVII), a análise destes fenómenos e a fundamentação destes padrões de conduta nos mercados apenas começaram a ser estudadas há relativamente pouco tempo, graças ao trabalho pioneiro de autores como Daniel Kahneman e Amos Tverski, ou aos desenvolvimentos atribuídos a Richard Thaler ou Robert Shiller.
Para tal muito contribuiu a evidência histórica de que a frequência de ocorrência de novas bolhas se intensificou ao longo dos últimos anos, desde o rebentamento da bolha da economia da japonesa no início da década de 90, às crises do Sudeste Asiático em 1997 e da Rússia em 1998, até ao crash global do ano 2000, muito ligado ao sector da Nova Economia e das empresas tecnológicas.
Antes, para lá de outras ocorrências de relevo no panorama internacional, sobressaiu o crash do Outubro negro de 1929, que dizimou a economia norte-americana e mundial por mais de uma década.
Em todas estas circunstâncias, registou-se um mesmo padrão de comportamento: os agentes económicos tenderam a abandonar a sua postura racional, a “entusiasmarem-se” com a evolução favorável dos mercados, a “descuidarem” os seus níveis de exposição ao risco e a assumirem posições alavancadas face às suas reais capacidades económicas.
Entre a convicção de muitos cidadãos comuns da Holanda do século XVII de que os bolbos de tulipas poderiam atingir valores muitas vezes superiores ao seu valor real e o investimento desproporcionado dos accionistas do mercado bolsista face aos fundamentos de avaliação das empresas negociadas está uma mesma pressuposição de que o mercado supera a razão e de que os ganhos são sustentáveis pela mera adesão maciça dos investidores às tendências dominantes.
Mas, à luz destes considerandos, será que estamos mesmo perante uma propagação de bolhas especulativas nos diferentes mercados de activos, reais e financeiros?
À primeira vista, qualquer das tendências de alta de preços podem ser justificadas: o custo das matérias-primas tem subido face ao aumento da procura de países com ritmos de crescimento avassaladores (como a China e a Índia); o sector imobiliário responde ao acréscimo de procura que resultou de uma maior facilidade de acesso ao crédito para a compra de habitação e a um certo recurso a este sector como reserva de valor; até as bolsas estarão a acompanhar o desempenho positivo das principais economias ocidentais (aqui, com a excepção do caso português, em que a Bolsa regista ganhos muito acima da performance económica do País – também porque o próprio tecido empresarial nacional aí não está devidamente representado).
Como sempre, a grande questão é saber se estes e os outros factores que poderiam justificar o actual sentido de variação dos preços, também justificam a amplitude do seu crescimento e a velocidade a que o mesmo se tem processado.
Num juízo que só o futuro costuma corroborar ou desmentir, a negação das possibilidades anteriores levar-nos-ia a concluir pela ocorrência das supostas bolhas especulativas. Será?
2 comentários:
A bolha imobiliária espanhola é outro exemplo em q o entusiasmo dos investidores, adicionado à reserva de valor q procuravam, fez com q atingisse o seu pico muito recentemente. No El Pais da semana passada falava q os próximos anos serão de rectificação dos valores exagerados do imobiliário.
Outro aspecto interessante a reter, é o efeito multiplicador das bolhas. Usando o exemplo anterior, a bolha imobiliária espanhola foi um dos grandes dinamizadores da economia espanhola.
Excelente artigo
Pois... temo é que, em 2009, aquela que é considerada a maior empresa de Braga não sofra dessa doença. Espero que não surja qualquer «bolha» especulativa sobre a pretensa maior facilidade em tomar as suas rédeas...
Porque o sucesso (ou a sorte) dá muito trabalho!
Mais a sério... o artigo é muito bom. Mesmo!
GC
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