segunda-feira, 28 de maio de 2007

Vashe zdorovie!

Enquanto a maioria dos Portugueses despertava para mais uma Terça-feira de trabalho, o Primeiro-Ministro Português teria já discursado no Conselho Empresarial da Câmara de Comércio e estaria na audiência com o Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, com quem foi almoçar de seguida.
Foi este o último acto oficial da visita de três dias de José Sócrates a Moscovo, no decurso da qual o Primeiro-Ministro terá tentado aproximar os pontos de vista da Federação Russa e da União Europeia (UE) e estimular as relações económicas entre os dois Países.
Curiosamente, se o relacionamento entre a UE e a Rússia não está a atravessar um dos seus períodos mais brilhantes do historial recente, as trocas económicas entre Portugal e a Rússia têm registado um crescimento sustentado, posicionando-se, porém, aquém do potencial que a Federação Russa representa para uma economia como a nossa.
Ao nível das trocas comerciais, o saldo tem sido francamente desfavorável para o nosso País, tendo-se registado um défice recorde no ano de 2004, na ordem dos 563 milhões de Euros. Para esta situação muito contribui o desequilibrado perfil das trocas existente, que revela que Portugal é um forte importador de petróleo da Federação Russa, enquanto se limita a exportar para este País bens com menor valor acrescentado, como a cortiça ou o calçado.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), nos primeiros nove meses de 2006, e relativamente ao período homólogo de 2005, verificou-se um aumento de 62% das exportações portuguesas para a Rússia, enquanto as importações registaram um acréscimo mais acentuado, da ordem dos 91%, tendo a factura das importações de petróleo ascendido aos 446 milhões de Euros.
Em termos percentuais, novamente de acordo com os dados do INE, a Rússia foi o 35º cliente de Portugal (19º no contexto extra-UE), com uma quota de 0,27% do total exportado, e o 18º fornecedor, com uma quota de 0,79% do total das importações, ao longo do ano de 2005. Os valores terão subido ligeiramente no ano passado.
Em sentido contrário, segundo dados compilados pelo ICEP – Instituto do Comércio Externo Português, Portugal ocupava em 2005 a 66ª posição enquanto fornecedor da Rússia, com uma quota de 0,1%, face aos 0,05% de 2001.
A outros níveis, se o Investimento directo da Rússia em Portugal é manifestamente insignificante, com uma média anual, entre 2001 e 2005, de menos de 200 mil euros de investimento bruto, a Rússia tem vindo a assumir importância crescente enquanto país de origem dos turistas que visitam o nosso País (em 2005, posicionava-se no 19º lugar no ranking do número de dormidas de estrangeiros no sector hoteleiro nacional).
Neste domínio, e se olharmos para os países da Europa Central e Oriental, a Rússia ocupa tradicionalmente a primeira posição enquanto emissor de turistas para Portugal, seguida da Polónia, República Checa e Hungria, e ainda com elevado potencial de crescimento.
A juntar a estes indicadores, não nos podemos também esquecer que a comunidade russa em Portugal ascende já aos 8.500 cidadãos, nas mais diversas esferas da actividade económica.
Antes desta visita do Primeiro-Ministro à Rússia, são igualmente de assinalar a primeira vinda de um Chefe de Estado Russo ao nosso País, em Novembro de 2004, e a visita do Ministro da Economia e Inovação à Federação Russa, em Outubro de 2005.
Em todas estas circunstâncias, foram recíprocas as manifestações de intenções de promover as relações económicas, comerciais e de investimento entre os dois Países, desiderato que motivou mesmo a criação de uma Comissão Mista para a Cooperação Económica, Industrial e Técnica entre a República Portuguesa e a Federação Russa.
Na sequência da 3ª Sessão desta Comissão, que teve lugar em 27 de Fevereiro último, foram tornados públicos ecos dos progressos evidenciados pelos Grupos de Trabalho sobre “Construção Naval e Pesca” e “Tecnologias e Inovação”, numa altura em que o desenvolvimento de parcerias e a cooperação nos domínios da moda, têxteis-lar, mobiliário, materiais de construção, tecnologias de informação, produtos farmacêuticos, materiais de transporte, moldes, construção civil e obras públicas, produtos alimentares e vinho, energia, indústria aeronáutica, construção naval, ciência, pesca, turismo, protecção do ambiente e cosmos foi assinalado como o principal factor de fortalecimento das relações económicas e comerciais para o futuro próximo.
A Rússia que José Sócrates visitou encontra-se numa fase de significativo crescimento económico, que se seguiu ao colapso de 1998 – um período de inflação galopante e de sucessivas desvalorizações do rublo.
Ao longo dos últimos anos, o crescimento real do PIB ultrapassou sempre os 6,4% anuais, com um elevado contributo do consumo e do investimento privados (com taxas de crescimento anuais superiores Aos 10%), à medida que a inflação e a taxa de desemprego registavam um decréscimo consistente para, respectivamente, os 9,7% e os 7% em 2006.
Também o comércio externo tem assumido papel preponderante neste período de expansão, uma vez que a Rússia dispõe de matérias-primas abundantes (com destaque para o petróleo e o gás natural) e não tem negligenciado a sua vocação exportadora.
Apesar do peso ainda significativo da economia informal, das condições sociais insuficientes para uma franja significativa da população (resquícios da época de planeamento centralizado) e do atraso na concretização de certas reformas estruturais, a Rússia é hoje um dos países com maior potencial de crescimento no horizonte.
E, se soubermos aproveitar o nosso quinhão no progresso que aí vem, poderemos também brindar: Vashe zdorovie!


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