quinta-feira, 10 de junho de 2010

Mundial 2010


A cada nova grande competição internacional, como a que agora se vai iniciar na África do Sul, uma das primeiras vertentes da análise económica do evento prende-se com o custo do evento face aos potencias benefícios que o mesmo irá proporcionar para o(s) país(es) anfitrião(ões), na qual costuma pesar significativamente o investimento realizado em infra-estruturas.
Neste particular, e tal como está hoje bem na actualidade no nosso País, importa distinguir entre aquilo que são os investimentos “reprodutivos” ou que aportam uma grande mais-valia ao nível do bem-estar da população e aqueles cuja mais-valia praticamente se esgota na competição em si.
No primeiro caso, a melhoria das infra-estruturas aeroportuárias e rodoviárias, os equipamentos de saúde e segurança, os complexos turísticos e vários investimentos conexos serão seguramente motivo de agradecimento das gerações Sul-Africanas vindouras.
De igual forma, num País com uma enorme cultura desportiva e em que há a prática generalizada de diversas modalidades, não é também de supor que se possa verificar um efectivo desaproveitamento das infra-estruturas desportivas, criadas ou melhoradas, após a conclusão do Mundial de Futebol.
Segundo os dados oficiais, as repercussões do Mundial na economia Sul-Africana serão substanciais: 93 mil milhões de Rands de receitas, a criação de 695.000 postos de trabalho, a recepção a 370.000 turistas (numa visão já pessimista que representa 75% da estimativa inicial) que despenderão uma média de 30.200 Rands nas suas estadias.
Ao nível do volume de Produto gerado, estima-se que 62% terá advindo dos investimentos realizados até 2010, sendo os remanescentes 38% consumados durante o ano em curso.
Nesta análise não é estimado qualquer efeito prospectivo do impacto da competição sobre as receitas geradas nos anos vindouros, nomeadamente pela afirmação da África do Sul como destino turístico.
Atente-se que neste Produto está a despesa realizada com a organização (nas infra-estruturas e na gestão da competição), que totaliza 30,3 mil milhões de Rands a cargo do Governo (quase dobrou face às previsões de 2007) e mais 9 mil milhões de Rands a cargo das Entidades de Governo das Províncias e Cidades.
Só em 2010, as receitas de turismo e o investimento da FIFA proporcionarão um aumento do Produto de 0,5%, num ano em que o crescimento do PIB estimado se cifra nos 2 a 2,5%.
Registe-se, porém, que estes são valores muito condicionados pela actual conjuntura económica mundial. Ao longo dos primeiros anos desta década, a África do Sul registou crescimentos económicos notáveis, com uma taxa média de crescimento próxima dos 4,5% anuais, graças a um tecido económico próspero e diversificado.
A título ilustrativo, note-se que, segundo os Indicadores de Desenvolvimento da ONU, a África do Sul tinha em 2008 um Rendimento Nacional per capita de 5.820 USD, ainda bastante abaixo dos 20.680 USD do Rendimento Nacional per capita Português, mas esse valor já traduzia um crescimento superior em 21% face aos dados de 2005.
Neste contexto, por mais que nos possa custar ver os relatos de bairros ainda com condições de vida infra-humanas junto aos complexos turísticos que acolhem as selecções visitantes, parece claro que esta aposta foi uma mais-valia para a África do Sul.
Tanto mais que, pese embora o País já estivesse totalmente aberto aos circuitos económicos, culturais e sociais internacionais (a título de exemplo, residirão na África do Sul perto de 500.000 Portugueses), a organização de uma competição desta natureza proporciona uma exposição única a nível mundial, cabendo-lhe uma especial responsabilidade por servir de cartão de visita de todo o Continente Africano.
Dentro de campo, todos ansiamos pelo melhor desempenho possível da nossa Selecção, pese embora a falta de confiança que possamos ter na concretização de tais aspirações.
E, se já não tivéssemos esse capital de confiança, as previsões das principais instituições financeiras internacionais mais nos retiram as esperanças.
Assim, segundo o Modelo Quantitativo desenvolvido pela J.P. Morgan – aplicado ao Mundial num interessante paper de 69 páginas -, a grande vencedora será a Inglaterra, após derrotar a Espanha na Final da prova. A Holanda, por sua vez, conquistará o terceiro lugar do torneio.
Note-se que estas previsões incluem uma análise dinâmica do próprio calendário do torneio, o que leva a que a equipa mais forte no Modelo da J. P. Morgan – o Brasil – não chegue sequer ao pódio.
Portugal, a 10ª equipa mais forte do modelo, ficaria mais cedo pelo caminho, depois de empatar com a Costa do Marfim, vencer a Coreia e perder com o Brasil, antes de ser eliminado pela Espanha nos Oitavos de Final.
Na mesma onda futebolístico-económica, a Goldman Sachs editou uma brochura sobre o mundial onde além de fazer a apresentação das fichas económicas de cada um dos 32 concorrentes, apresenta também algumas previsões sobre o seu desempenho desportivo.
Desta feita, o vencedor antecipado é o Brasil, com uma probabilidade de vitória de 13,76%, seguido da Espanha, 10,46%, da Alemanha, 9,4%, e da Inglaterra, 9,38%.
Portugal queda-se pelo 12º lugar, com uma probabilidade de vitória de 2,32%.
Resta-nos a esperança de que os resultados dos modelos futebolísticos destas reputadas consultoras internacionais equivalham aos resultados dos seus modelos económicos e financeiros…

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