terça-feira, 16 de setembro de 2008

Criar emprego ou criar emprego


Quando o Partido Socialista avançou com o emblemático cartaz do José Sócrates candidato que assegurava que o futuro Governo ia proceder à recuperação de 150.000 empregos, estaria longe de imaginar o quão pertinente seria essa promessa no decurso do seu mandato.
Na verdade, ao longo dos últimos três anos, a situação económica do País degradou-se de forma significativa, os diversos sectores do tecido empresarial viram-se ameaçados por desafios crescentes na sua envolvente local e internacional, os principais indicadores de conjuntura assinalaram as dificuldades que cada família portuguesa sente de forma clara no seu dia-a-dia.
A questão do emprego, em particular, ganhou ainda mais pertinência com as enormes dificuldades que se deparam a várias franjas do território, por via dos sucessivos casos de desinvestimento estrangeiro, de encerramento de serviços públicos e de falência de projectos empresariais locais.
Temos hoje, em diversas zonas do País, taxas de desemprego que se situam bem acima dos dois dígitos, afectando famílias inteiras que se viram privadas do seu meio de subsistência perante a passividade e condescendência dos responsáveis públicos.
Em contrapartida, os estímulos à iniciativa empresarial e, em especial, ao sensível espectro das Micro, Pequenas e Médias Empresas foram inócuos. Os grandes e mediáticos projectos PIN tardam em sair do papel. Os sucessivos programas de apoio ao empreendedorismo ou à criação de emprego traduzem-se em pouco mais que flores noticiosas e espuma que a mínima onda dos dias que correm faz dissipar.
Nesta conjuntura, há, porém, exemplos de sucesso. Agentes de desenvolvimento local e regional que assumem cabalmente as suas potencialidades, em benefício dos meios em que se encontram inseridos, e que não hesitam em substituir-se às responsabilidades do Governo Central na promoção de um desenvolvimento harmonioso do País e no combate às dificuldades económicas existentes.
Em Guimarães, a recente inauguração do Avepark é um dos exemplos desse tipo de parcerias e projectos, envolvendo aqui a autarquia local, a Universidade do Minho, a Associação Industrial do Minho e a Associação do Parque de Ciência e Tecnologia do Porto.
Neste parque empresarial de vanguarda, está já assegurada a presença de diversas dezenas de empresas de referências, start-ups universitárias, centros de investigação e institutos de referência internacional.
Bem perto, entre Vila Verde e Amares, duas Autarquias e a mesma associação empresarial deitaram também mãos-à-obra para criar o I9 Park.
Mais a Norte, vários concelhos do Alto Minho tentam seguir os passos notáveis dos Arcos de Valdevez, na tentativa de mitigarem os efeitos desta situação económica sobre o coração de uma das “zonas deprimidas” de Portugal, nos termos do Relatório dos tempos do Professor Daniel Bessa.
Mais do que um verbo de encher, estes e outros Municípios, Associações Empresariais e demais parceiros, têm vindo a criar condições reais para o acolhimento de projectos empresariais, para a atracção de investimentos e para a criação de empresas, assumindo o acesso ao emprego como elemento crucial da qualidade de vida das populações visadas.
A nível nacional, e, por via dos organismos desconcentrados do Estado, o Governo tem tido também a preocupação de “criar emprego”.
Directamente, através da política maciça de criação de estágios profissionais (de duvidosa sequência e capacidade de identificação de soluções exequíveis para o futuro dos profissionais abrangidos) e de canalização de significativos volumes de fundos comunitários para a área da formação (com resultados também duvidosos, mas com grande impacto estatístico na actualidade).
Indirectamente, através da eliminação administrativa de inscrições nos Centros de Emprego, com critérios cada vez mais apertados – mas nem sempre sustentados -, numa óptica de reforço da preocupação estritamente estatística, mas aumentando a burocracia e o livre arbítrio nesta área.
Esta gestão política das estatísticas tem conseguido, por si só, mitigar os efeitos da crise económica e o fracasso das políticas públicas orientadas para esta esfera da sociedade.
Mas, como também se costuma dizer, "consegue-se enganar alguns durante muito tempo, consegue-se enganar muitos durante algum tempo, mas não é possível enganar todos durante todo o tempo..."

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