segunda-feira, 9 de junho de 2008

Construção de Portugal


Sendo um dos sectores mais importantes para a actividade económica nacional, o sector da construção civil e obras públicas só costuma ser recordado por maus motivos: é o volume de acidentes de trabalho, é o recurso a mão-de-obra imigrante a custos muito reduzidos, é a alegada cartelização de preços em certos concursos públicos, são as situações menos claras no relacionamento com as Autarquias locais, entre vários outros “atributos” pouco simpáticos.
Todavia, este sector apresenta também traços importantes para o conjunto da economia do País ou de uma certa região em que, como no Minho, tenha um peso mais significativo, quer pelo volume de negócios que gera, quer pelo nível de emprego que potencia, quer, até, por ter boas perspectivas de internacionalização com vantagens competitivas.
Perante estes factos, pode então perguntar-se: porque é que apenas duas (a Mota-Engil e a Soares da Costa) das muitas empresas nacionais conseguem o seu lugar ao sol no ranking das 100 maiores Empresas de Construção Europeias -European Powers of Construction 2007, da Deloitte?
Desde logo, por uma razão de escala do País. Quantas empresas nacionais estão no topo dos rankings de dimensão dos seus sectores de actividade a nível europeu ou mundial? Quantas “Blue Chips” do nosso mercado constam do principal índice da NYSE Euronext?
Ora, como seria de esperar, esse ranking encontra-se dominado por empresas britânicas (embora as duas primeiras até sejam francesas), mas regista também um peso expressivo de empresas espanholas, o que já motiva outras reflexões.
Na verdade, as empresas de Portugal e Espanha, pese embora a diversa dimensão de cada um dos países, tiveram uma história similar e um conjunto de oportunidades de que identicamente puderam beneficiar, com especial ênfase para os muitos milhões de pesetas, contos e euros que os dois países receberam dos Fundos Comunitários e que suportaram os múltiplos investimentos em infra-estruturas realizados ao longo das últimas duas décadas.
Também na esfera de intervenção privada, a descida sustentada das taxas de juro, alimentou uma apetência crescente pelo sector imobiliário, que mais receitas gerou para as empresas deste sector de actividade.
A partir daqui, porém, as estratégias das empresas de cada um dos países foram diversas, com consequência directa nos resultados que umas e outras hoje apresentam e nos riscos que comportam face às perspectivas futuras.
Assim, em Portugal manteve-se uma forte dependência dos projectos públicos para a esmagadora maioria das empresas – o que teve um impacto negativo relevante quando confrontados com a política de contenção do défice público e as restrições ao endividamento das Autarquias locais.
Da mesma forma, foi também bastante reduzida a expressão local dos fenómenos de concentração a que assistimos em quase todos os outros sectores de actividade, o que retirou alguma massa crítica às empresas nacionais e alguma capacidade de competirem com vantagem nos mercados locais e internacionais.
Percebe-se, assim, que as excepções a esta regra costumem surgir do estabelecimento de parcerias ou consórcios de várias empresas nacionais, tal como aconteceu na construção do Estádio Municipal de Braga (com o ASSOC, ACE que reuniu a ABB – Alexandre Barbosa Borges, Lda, a Domingos da Silva Teixeira, SA, os Empreiteiros Casais, SA, a Eusébios & Filhos, Lda, a FDO – Construções, SA, a J. Gomes – Soc. Const. do Cávado, SA, e a Rodrigues & Névoa, Lda) ou na recente contratualização no valor de 305 milhões de Euros da Bracarense Way2B (também com a DST, Britalar, J. Gomes - Sociedade de Construções do Cávado, Rodrigues & Nóvoa e ABB - Alexandre Barbosa Borges) com o Governo Líbio, só para citar dois exemplos que nos são próximos.
À luz destes dados e considerações, compreende-se a apreensão dos empresários do sector (de que dá eco um dos últimos comunicados da FEPICOPS – Federação Portuguesa da Indústria de Construção e Obras Públicas) em torno das recentes considerações de alguns responsáveis sobre a capacidade de as empresas nacionais poderem comportar o “elevado” volume de obras públicas que se perspectiva venham a ser concretizadas no futuro próximo.
Ora, sem que possa admitir-se a instituição de qualquer tipo de proteccionismo como aquele que se alega defende as empresas espanholas nos concursos nesse País, dependerá muito da conduta das empresas de construção nacionais o seu posicionamento na cadeia de valor desses potenciais concursos públicos de grande envergadura: ou como entidades adjudicatárias ou como sub-contratadas de quaisquer concorrentes internacionais.
O sector tem a palavra…

2 comentários:

Unknown disse...

Porque e' que o "recurso a mão-de-obra imigrante a custos muito reduzidos" e' um problema? A mao de obra mais barata significa que o preco final das obras publicas ou das habitacoes sera' mais baixo. Assim, poupa-se dinheiro aos contribiuntes e aos consumidores. Para alem disso, a mao de obra portuguesa fica livre para ser utilizada em actividades de maior valor acrescentado. Nao vejo ninguem a queixar-se que a utilizacao de cimento mais barato e' um problema.

Ricardo Rio disse...

Caro Luís,
A questão não está nos salário serem reduzidos ou não mas antes de serem justos face aos valores de mercado.
E, para isso, tanto me faz que sejam imgrantes cá ou portugueses lá fora. Sempre me preocupam mais que o cimento, não?