Amor Primeiro
Desde que comecei a redigir crónicas semanais de economia realizaram-se dois Campeonatos da Europa de Futebol e outros tantos Campeonatos Mundiais, razão pela qual já bastas vezes pude discorrer sobre as inter-conexões entre o desempenho das selecções nestas competições e o impacto na actividade económica nos seus países de origem. No caso do Euro-2004, até com outra abrangência por via de Portugal se ter assumido como País organizador do Campeonato.
Em todas essas ocasiões, fi-lo com uma base verdadeiramente científica e invocando estudos internacionais das mais reputadas Consultoras, em que se analisava o valor económico das “marcas” nacionais, as expectativas de impacto no produto interno por via da expansão directa do consumo e/ou do aumento da confiança dos consumidores e investidores e dos níveis de motivação e produtividade dos trabalhadores, até ao impacto nos movimentos internacionais de capitais ou do efeito catalisador que o desempenho de certas selecções poderia ter sobre a economia global.
Em qualquer dessas circunstâncias, jamais me procurei socorrer do espírito diletante daqueles que achavam que esses meses deviam ser dedicados a essa causa maior – o Europeu/Campeonato do Mundo – e que os resultados da nossa Selecção deviam servir de paliativo e/ou de analgésico para as agruras do dia-a-dia e para a incerteza que possa pairar no futuro dos Portugueses.
Não me revejo, porém, naqueles que se lamentam do excesso de informação sobre todos os factores que envolvem a competição, considerando equívocos os critérios editoriais e excessiva a relevância dada a cada aspecto acessório dos atletas e do ambiente que rodeia estes eventos.
Ora, tratando-se estas competições (também) de um claro produto comercial, e sabendo-se que qualquer meio de comunicação social se submete aos interesses económicos que derivam do nível de adesão das suas audiências, alguém poderia esperar uma atitude diversa daquela que hoje é novamente seguida por todas as televisões, rádios ou jornais?
Feitas estas ressalvas, permitam-me, porém, que confesse que sendo esta, talvez, a circunstância em que parto para uma competição desta natureza com um menor apetite por toda essa catadupa informativa – em linha com as minhas baixas expectativas sobre o desempenho positivo (friso expectativas, não desejos) – é talvez esta a circunstância em que acho que a Selecção pode ter um papel socialmente fundamental neste estio que tarda em chegar aos lares nacionais.
È sabido, como muitos escrevem e dizem, que não vão ser os golos do Cristiano, os sprints do Bosingwa ou os passes milimétricos do Moutinho que vão fazer crescer as notas nas nossas carteiras, reduzir os preços dos bens essenciais, combater o desemprego ou estimular o investimento e a nossa competitividade externa.
Não sei, sequer, se em linha com os tais estudos que referi, a nossa economia poderá registar algum crescimento com as trivelas do Quaresma, os cortes seguros do Ricardo Carvalho ou os passos de magia do velho-Deco que todos gostávamos de reencontrar.
Podem acusar-me de estar a fazer a apologia pública do velho lema do “pão e circo” que já sustentou a afirmação de muitos regimes de má memória, mas, se por mais não for, que as vitórias da Selecção tragam o ínfimo raio de luz e alegria por que anseiam tantas e tantas famílias de Norte a Sul do País.
Em bom rigor, também não será por não se falar da Selecção ou por esta se “portar pior” do ponto de vista desportivo, que deixaremos de ter criminalidade nas ruas, que teremos mais segurança sobre a capacidade do Estado nos facultar o acesso à Saúde, Justiça, Educação ou Ensino Superior de qualidade, que nos sentiremos menos coagidos no exercício da nossa cidadania, que procederemos a uma melhor avaliação dos inócuos esforços de revitalização económica e consolidação das contas públicas pela via da despesa ou que teremos outra percepção sobre a total ausência de políticas verdadeiramente sociais, orientadas para aqueles que mais necessitam.
E, se perceberem o impacto, breve mas importante, que este fenómeno pode ter para os lares do Continente e Ilhas, compreenderão ainda mais o que isto pode representar para a giesta lusitana espalhada pelos quatro cantos do mundo e, muito especialmente para aqueles que vão receber a Selecção no seu País de acolhimento.
A recepção do passado Domingo em Neuchatel não me surpreendeu. Vi-a já, tantas e tantas vezes, nos olhos turvos de muitos Portugueses de Toronto, de Nova Iorque, de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Paris, de Sidney e de tantos outros pontos do globo.
Dos que partiram há muito. Dos que ainda agora chegaram. Dos que queriam ficar. Dos que queriam voltar. Dos que venceram. Dos que esperavam mais. Dos que sofrem. Dos que triunfaram.
De todos aqueles que, por mais estereótipos que se criem, vivem e sentem e sabem que não há amor como o primeiro.
Em todas essas ocasiões, fi-lo com uma base verdadeiramente científica e invocando estudos internacionais das mais reputadas Consultoras, em que se analisava o valor económico das “marcas” nacionais, as expectativas de impacto no produto interno por via da expansão directa do consumo e/ou do aumento da confiança dos consumidores e investidores e dos níveis de motivação e produtividade dos trabalhadores, até ao impacto nos movimentos internacionais de capitais ou do efeito catalisador que o desempenho de certas selecções poderia ter sobre a economia global.
Em qualquer dessas circunstâncias, jamais me procurei socorrer do espírito diletante daqueles que achavam que esses meses deviam ser dedicados a essa causa maior – o Europeu/Campeonato do Mundo – e que os resultados da nossa Selecção deviam servir de paliativo e/ou de analgésico para as agruras do dia-a-dia e para a incerteza que possa pairar no futuro dos Portugueses.
Não me revejo, porém, naqueles que se lamentam do excesso de informação sobre todos os factores que envolvem a competição, considerando equívocos os critérios editoriais e excessiva a relevância dada a cada aspecto acessório dos atletas e do ambiente que rodeia estes eventos.
Ora, tratando-se estas competições (também) de um claro produto comercial, e sabendo-se que qualquer meio de comunicação social se submete aos interesses económicos que derivam do nível de adesão das suas audiências, alguém poderia esperar uma atitude diversa daquela que hoje é novamente seguida por todas as televisões, rádios ou jornais?
Feitas estas ressalvas, permitam-me, porém, que confesse que sendo esta, talvez, a circunstância em que parto para uma competição desta natureza com um menor apetite por toda essa catadupa informativa – em linha com as minhas baixas expectativas sobre o desempenho positivo (friso expectativas, não desejos) – é talvez esta a circunstância em que acho que a Selecção pode ter um papel socialmente fundamental neste estio que tarda em chegar aos lares nacionais.
È sabido, como muitos escrevem e dizem, que não vão ser os golos do Cristiano, os sprints do Bosingwa ou os passes milimétricos do Moutinho que vão fazer crescer as notas nas nossas carteiras, reduzir os preços dos bens essenciais, combater o desemprego ou estimular o investimento e a nossa competitividade externa.
Não sei, sequer, se em linha com os tais estudos que referi, a nossa economia poderá registar algum crescimento com as trivelas do Quaresma, os cortes seguros do Ricardo Carvalho ou os passos de magia do velho-Deco que todos gostávamos de reencontrar.
Podem acusar-me de estar a fazer a apologia pública do velho lema do “pão e circo” que já sustentou a afirmação de muitos regimes de má memória, mas, se por mais não for, que as vitórias da Selecção tragam o ínfimo raio de luz e alegria por que anseiam tantas e tantas famílias de Norte a Sul do País.
Em bom rigor, também não será por não se falar da Selecção ou por esta se “portar pior” do ponto de vista desportivo, que deixaremos de ter criminalidade nas ruas, que teremos mais segurança sobre a capacidade do Estado nos facultar o acesso à Saúde, Justiça, Educação ou Ensino Superior de qualidade, que nos sentiremos menos coagidos no exercício da nossa cidadania, que procederemos a uma melhor avaliação dos inócuos esforços de revitalização económica e consolidação das contas públicas pela via da despesa ou que teremos outra percepção sobre a total ausência de políticas verdadeiramente sociais, orientadas para aqueles que mais necessitam.
E, se perceberem o impacto, breve mas importante, que este fenómeno pode ter para os lares do Continente e Ilhas, compreenderão ainda mais o que isto pode representar para a giesta lusitana espalhada pelos quatro cantos do mundo e, muito especialmente para aqueles que vão receber a Selecção no seu País de acolhimento.
A recepção do passado Domingo em Neuchatel não me surpreendeu. Vi-a já, tantas e tantas vezes, nos olhos turvos de muitos Portugueses de Toronto, de Nova Iorque, de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Paris, de Sidney e de tantos outros pontos do globo.
Dos que partiram há muito. Dos que ainda agora chegaram. Dos que queriam ficar. Dos que queriam voltar. Dos que venceram. Dos que esperavam mais. Dos que sofrem. Dos que triunfaram.
De todos aqueles que, por mais estereótipos que se criem, vivem e sentem e sabem que não há amor como o primeiro.
1 comentário:
Emocionante a parte final desta crónica de Ricardo Rio. Dedicada aos emigrantes que foram em busca de uma vida melhor, mas em cujo coração Portugal bate fortemente !
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