segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Europa-África I


De acordo com o último Relatório do Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, assente em dados relativos a 2005, a Islândia ultrapassou marginalmente a Noruega para atingir o topo do ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), um indicador compósito que abarca componentes económicas, demográficas, sociais, ambientais e de outras naturezas conexas.
Se nos centrarmos nos países da União Europeia, a liderança cabe à Irlanda, no 5º lugar da tabela do IDH, com um valor de 0,959, mas logo seguida por mais quinze parceiros da União antes de se atingir o 29º lugar de Portugal, que atinge os 0,897 no IDH.
De entre os 27, os últimos lugares pertencem aos mais recentes membros da família Europeia, a Bulgária (53ª) e a Roménia (60ª), mas ambas ainda dentro do grupo de países de desenvolvimento humano elevado.
Se o IDH é, em si mesmo, um indicador um pouco asséptico, atentemos, por exemplo, aos dados da Esperança Média de Vida à Nascença: Irlanda, 78,4 anos; Suécia e Espanha, 80,5 anos; Portugal, 77,7 anos; Estónia, 71,2 anos.
Na taxa de literacia dos adultos, os valores oscilam entre os 99% de uma parte substancial dos Estados-membros, os 93,8% de Portugal e os 87,9% de Malta.
Finalmente, o Produto per capita (Ppc) varia entre os 60.228 dólares do Luxemburgo, os 38.505 dólares da Irlanda, os 20.410 dólares de Portugal e os 9.032 dólares da Bulgária.
Dos 70 países que pertencem ao nível de desenvolvimento mais elevado, apenas um as Ilhas Maurícias (na 65ª posição, com um IDH de 0,804, um Produto per capita de 12.715 dólares, uma taxa de literacia de adultos de 84,3% e uma Esperança média de vida de 72,4 anos) pertence ao Continente Africano.
No nível abaixo, podemos encontrar, entre outros, países como a Tunísia, Cabo Verde (o primeiro entre os PALOP, no 102º lugar), a Argélia, o Egipto, a África do Sul ou S. Tomé e Príncipe (123º).
Mas é no nível dos países de menor desenvolvimento humano que se pode encontrar uma percentagem esmagadora de membros do contingente africano. Lá estão Angola (162º), Moçambique (172º) ou a Guiné-Bissau (175ª e antepenúltima do ranking das Nações Unidas).
Qualquer destes países tem um IDH inferior aos 0,45 (o que, matematicamente, corresponde a não atingir o nível mínimo de aprovação em termos de desenvolvimento), tem uma esperança média de vida à nascença inferior aos 46 anos, um Produto per capita entre os 2.335 dólares de Angola, os 1.242 dólares de Moçambique e os 827 dólares da Guiné e uma taxa de literacia de adultos de 67,4% em Angola, mas apenas 38,7% em Moçambique.
Nesta classe de países, podemos, porém, encontrar dados ainda piores: a esperança média de vida à nascença na Zâmbia é de 40,5 anos; o produto per capita do Malawi é de 667 dólares e a taxa de literacia de adultos é de 23,6% no Burkina-Faso. No cômputo geral do IDH, a última posição pertence à Serra Leoa, com um valor de 0,336.
No Sudão, há 5,4 milhões de cidadãos que abandonaram as suas casas. Este número cifra-se entre os 1,2 e os 1,7 milhões de pessoas no Uganda e ascende a 1,1 milhões de Congoleses, ao que acresce mais 400 mil refugiados no exterior.
A taxa de electrificação do País não ultrapassa os dez por cento no Uganda, Malawi, Congo, Moçambique ou Burkina-Faso. Percentagens muito significativas das populações destes países não têm acesso às mínimas condições sanitárias exigíveis, a água potável ou a condições de acompanhamento da maternidade (o que leva uma percentagem significativa das crianças a terem pesos e alturas inferiores ao desejável para as suas idades).
Todo este conjunto de dados traça um quadro extremamente dicotómico e quase simétrico entre dois continentes vizinhos entre os quais a História chegou a criar laços de sangue e cultura umbilicais.
Não se percebe, pois, o distanciamento que ainda hoje se cultiva entre ambos, os sentimentos de constante confrontação, a forma como parecem cuidar de estreitar relações com terceiros para fazer ver ao outro parceiro que o mesmo é dispensável na sua existência.
Em qualquer circunstância, a realização de uma Cimeira como a que esta semana teve lugar em Portugal tem méritos inquestionáveis.
Na próxima semana, porém, tentaremos avaliar porque é que o maior fracasso da Cimeira foi precisamente no campo económico. Mas os dados que antes apresentei deixam já pistas significativas…

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