terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A eMoção da Censura


A “Moção de Censura ao Governo” é um instrumento ao dispor da Assembleia da República, que lhe permite levar ao extremo o seu papel fiscalizador da actividade governativa, uma vez que em caso de aprovação da mesma por uma maioria absoluta de Deputados (116 ou mais) há lugar à demissão do Executivo.
Nesse cenário, compete ao Presidente da República avaliar o cenário em presença para decidir sobre a melhor forma de ultrapassar a crise política em questão, a qual pode não passar pela convocação de Eleições Legislativas antecipadas,
No actual contexto, pode perguntar-se: justifica o actual Executivo a apresentação de uma Moção de Censura por um qualquer Partido com assento no Parlamento? Deve o mesmo ser demitido?
Do ponto de vista da sua gestão, Portugal vive hoje com um Governo que se assemelha a uma Sociedade por quotas: temos o accionista maioritário e Sócio-Gerente, José Sócrates, o sócio minoritário investidor, Teixeira dos Santos, e um leque alargado de sócios com participações igualmente irrisórias, com escassa capacidade de influência sobre as principais decisões e que quase primam pelo anonimato na actividade corrente da Sociedade.
O mentor da empresa considera-se um visionário que conseguiu seduzir o mercado com a sofisticação dos seus produtos, verdadeiros motores de modernização civilizacional do mundo envolvente: depois da era dos powerpoints e das incursões nas redes sociais, começam mesmo a rarear os suportes tecnológicos que possam ilustrar cabalmente os avanços históricos que hoje o País apresenta nos domínios das energias renováveis, das causas progressistas e fracturantes, das estatísticas de formação de adultos e do potencial exportador dos célebres Magalhães.
Inebriado com o sucesso que vislumbra ao espelho, o Grande Timoneiro dos tempos modernos começa hoje a achar-se um incompreendido, por entre o crescente repúdio que causa nos seus potenciais clientes e mesmo entre os seus antigos e actuais colaboradores.
Do ponto de vista dos resultados, a dita Sociedade apresenta um currículo pouco recomendável: a situação financeira é catastrófica e já não merece crédito de qualquer das suas contrapartes externas, implicando custos de financiamento que se revelam já incomportáveis numa perspectiva de médio e longo prazo; a situação económica está visivelmente depauperada, com nulas perspectivas de retoma no futuro imediato e com sinais gravíssimos ao nível de indicadores como a taxa de desemprego, particularmente em alguns segmentos da população-alvo (como entre os jovens onde já ultrapassa os 23%).
Aliás, a conjugação destas duas vertentes leva a que a capacidade de decisão do Governo esteja hoje fortemente limitada, quando não é determinada pelos referidos parceiros externos, cujo ascendente só pode crescer no horizonte próximo.
Por entre os múltiplos disparates que se acumulam em diferentes áreas da governação, as contradições com os actos e as palavras pré-eleitorais, a incapacidade de responder aos reais anseios e necessidades do dito “mercado” e a crescente perda de credibilidade externa, reconhece-se que, a prazo, a demissão do actual Governo é uma solução incontornável para a defesa dos interesses nacionais.
Nesta matéria, porém, a forma de lidar com o Governo de um País que se encontra na situação de Portugal já não se assemelha às soluções drásticas, mas circunscritas, que se poderiam colocar em relação a uma qualquer empresa.
Em verdade, apesar de todos os reparos antes formulados, a “gestão” do País só deve ser realmente substituída quando se demonstrar que a mesma é um obstáculo incontornável à implementação das medidas que podem contribuir para dar resposta aos problemas antes citados, seja por iniciativa própria ou por imposição alheia.
A situação financeira do País e, nomeadamente, os níveis de execução do Orçamento aprovado graças ao sentido de responsabilidade do seu principal “concorrente” são hoje o teste ácido à sobrevivência do Executivo de José Sócrates.
No imediato, a mera trica politica e a esquizofrenia sôfrega de protagonismo de alguns líderes partidários pode até justificar todo o tipo de atitudes, mas as mesmas devem merecer a resposta que o mais elementar bom-senso pode aconselhar.
Tudo mais, é a emoção da censura…

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Um papel que toca a todos


“Os voluntários não são pagos por não terem valor, mas porque não têm preço”.

Nas mais diversas circunstâncias, do nosso círculo de amigos ao meio familiar, do nosso contexto profissional às discussões sobre o curso que o País tem tomado, é comum ouvirmos dizer que já nada vale a pena e que o ideal será encontramos forma de nos acomodarmos à realidade que se nos depara.
Aliás, quanto mais nos debruçamos sob esferas que não estão totalmente sob o nosso campo de decisão, mais consideramos inútil qualquer esforço que possamos alocar à modificação das circunstâncias que nos preocupam ou desagradam.
Neste âmbito, porém, os actos vêm-se sobrepondo às palavras e são múltiplas as evidências que demonstram que, num cumular de pequenos gestos, são muitos, são cada vez mais, aqueles que entendem que podem ser verdadeiros motores da mudança e agentes de transformação da realidade envolvente, em benefício do próximo.
Não é apenas o acto caridoso de quem, com mais ou menos sacrifício, adere num determinado instante ao repto de apoio a causas que pretendem mitigar o sofrimento alheio, através de um qualquer donativo em dinheiro ou géneros, como o que resulta das muitas campanhas com que somos continuamente confrontados e a que, como Comunidade, temos vindo a dar uma resposta tão cabal quanto surpreendente.
Mas é sobretudo o número crescente de cidadãos que entregam o seu tempo – um dos seus bens mais preciosos – à participação voluntária num diversificado leque de projectos de intervenção social que mais sobressai de entre as tendências patenteadas pela nossa sociedade ao longo dos últimos anos.
Historicamente, sempre fomos um País com forte pendor associativo, destacando-se o trabalho gratuito desenvolvido por muitos dirigentes e colaboradores de associações culturais, recreativas, desportivas ou sociais, muitas das vezes como forma de realização pessoal e ocupação dos tempos livres.
Em tempos mais recentes, tem crescido o volume de horas despendido em complemento a exigentes actividades profissionais e vivências familiares, de muitos que participam de forma regular nas mais diversas iniciativas de intervenção junto de franjas mais sensíveis da população – seja por envolverem pessoas mais carenciadas, seja por se dirigirem a determinados grupos de risco.
Para lá da progressiva formalidade de tais participações por parte das próprias instituições de destino – com crescentes padrões de exigência na selecção e na regularidade da colaboração, com requisitos de formação-base para os voluntários, etc. -, evidenciam-se também iniciativas comunitárias que procuram alavancar o encontro entre oferta e procura, através de bolsas de horas ou Bancos de Voluntariado, que mais reforçam o valor social e económico desta actividade.
Ainda assim, numa altura em que se assinala o Ano Europeu do Voluntariado, cumpre igualmente realçar o volume crescente de voluntariado que é viabilizado pela cada vez maior Responsabilidade Social das Empresas, nomeadamente aquelas que possibilitam aos seus colaboradores a participação neste tipo de projectos como parte do seu tempo normal de trabalho.
Neste âmbito, se é já comum encontrar grandes empresas que permitem que os seus colaboradores reservem uma tarde por semana para acompanhar crianças ou idosos em equipamentos sociais, para efectuarem visitas a cidadãos presos e sem família e outras iniciativas análogas, permitam-me que destaque o projecto “Aprender a Empreender” desenvolvido pela Associação “Junior Achievement Portugal”, pela sua singularidade e pela natural conexão com os temas habituais deste espaço.
Contando com o Alto Patrocínio da Presidência da República, a congénere portuguesa da mais antiga organização educativa mundial sem fins lucrativos, procura desenvolver o empreendedorismo, o gosto pelo risco, a criatividade, a responsabilidade, a iniciativa e a inovação junto de crianças e jovens, enquanto meio de apoio ao aumento quantitativo e qualitativo de iniciativas empresariais no nosso País.
Para tal, os colaboradores das estruturas de gestão das diversas empresas aderentes são desafiados a partilhar as suas experiências com jovens dos diferentes ciclos de ensino, contribuindo para a sua orientação vocacional, para a indução de uma cultura empresarial e para o reforço dos valores do empreendedorismo e do apoio à criação de projectos empresariais.
Só no ano lectivo 2010/2011, estiveram envolvidas nos vários domínios deste projecto 387 escolas, mais de 27.000 alunos e cerca de 1.250 voluntários, em diversos pontos do País.
Sendo certo que nem todos têm vocação para lidar com determinadas franjas da população num quadro de apoio social, quanto custa colocar uma pequena parcela das nossas competências específicas ao serviço da Comunidade?
Se puder e quiser, seja voluntário!